No capítulo 9 do livro do profeta Daniel, no Antigo Testamento da Bíblia, há uma profecia chamada das “Profecia das Setenta Semanas”, em que o termo “semana”, neste livro, vem da palavra hebraica “shavua”, que significa simplesmente um ‘conjunto de sete’, da mesma maneira que uma dezena se refere a um conjunto de dez, ou que uma dúzia significa um conjunto de doze. No contexto da passagem, as “semanas” se referem a um conjunto de sete anos. O povo judeu era bastante familiarizado com o ciclo sabático, que envolvia uma contagem 7 períodos de 7 anos e, após 49 anos, era comemorado o Ano do Jubileu, que era declarado no Dia da Expiação (Yom Kippur) do 50° ano. Além de ser o Ano do Jubileu, o 50° ano também era o 1° ano do novo ciclo sabático.
O judeu Daniel estava exilado na Babilônia, mais de quatro séculos antes de Cristo, e fez uma oração por estar angustiado com toda a situação cativa do seu povo (o que durou cerca de 70 anos, no reinado de Nabucodonosor). Em resposta à sua fervorosa oração, Deus enviou o anjo Gabriel, para lhe responder. A resposta foi em forma da profecia do capítulo 9. Vale a pena ler o capítulo inteiro pois, a seguir, consta somente um trecho.
Daniel 9:
“24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos.
25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas.
27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.” Daniel 9:24-27
É importante observar para quem é endereçada esta profecia e quais são os seus objetivos.
Para quem:
- determinadas sobre o teu povo
- sobre a tua santa cidade
Portanto, a profecia do capítulo 9 de Daniel se refere ao povo de Daniel (os judeus) e à Cidade Santa (Jerusalém). Não é uma profecia para outro povo nem para outro local.
Objetivos:
- cessar a transgressão;
- dar fim aos pecados;
- expiar a iniquidade;
- trazer a justiça eterna;
- selar a visão e a profecia
- ungir o Santíssimo.
Algumas traduções mencionam, no verso 26, “o povo do príncipe, que há de vir”. No original, porém, consta a expressão “um povo de um príncipe, que há de vir”, com artigos indefinidos.
Assim como Jerusalém foi tomada por Nabucodonosor, que conquistou Israel, destruiu o Templo e levou os judeus como cativos para a Babilônia (incluindo Daniel), no Século VI A.C., tudo isso aconteceria de novo, em outra circunstância futura (muitos séculos depois) ao momento em que Daniel recebeu essa profecia. Daniel soube que o seu povo voltaria para Israel, que o Templo seria reconstruído, mas algo bem semelhante ao que havia acontecido antes (a invasão dos babilônicos, por Nabucodonosor) aconteceria de novo, por um outro povo, por um outro líder.
De fato, em 70 D.C., durante o reinado do imperador romano Vespasiano, o comandante Tito (que alguns anos depois se tornaria o imperador Titus Flavius Caesar Vespasianus Augustus) sitiou Jerusalém, rodeou a cidade com três legiões pelo lado oeste e uma legião sobre o Monte das Oliveiras (a leste) e cortou a entrada de alimentos e de água. Depois, os romanos penetraram na cidade, capturaram a Fortaleza Antônia, destruíram totalmente o Templo com um incêndio e saquearem a cidade. Dezenas de milhares de pessoas, a maioria judeus, foram assassinadas durante o sítio. Outras foram capturadas e escravizadas.
Esta profecia tem sido motivo de confusão para muitos, porque interpretam que a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém foi ao final da 69ª semana, que houve uma espécie de pausa profética devido à rejeição dos judeus ao Messias (Cristo), e que o relógio profético será retomado após o arrebatamento da Igreja e da assinatura de um suposto acordo de paz pelo Anticristo, no fim dos tempos. Eles entendem que toda a 70ª semana ainda seria um período no futuro. Esta compreensão está equivocada! Metade da 70ª, semana de anos já transcorreu, durante o ministério de Cristo na Terra, em sua primeira vinda, como ser humano, em carne, nascido da Virgem Maria.
No texto da profecia, é mencionado um período inicial de 7 semanas, e em seguida um outro período de 62 semanas. Portanto, quando o texto fala “depois das 62 semanas, será morto o ungido”, devemos certamente entender como “depois das 69 ( = 7 + 62) semanas, será morto o ungido” pois, conforme vimos, o período das 62 semanas veio depois do período das 7 semanas.
E que momento é este, chamado “depois das 69 semanas“? Ora, DEPOIS das 69 semanas, significa que o ‘ungido’ seria morto na 70ª semana de anos!
Um outro ponto é que a ‘entrada triunfal’ de Jesus em Jerusalém ocorreu poucos dias antes da semana da Páscoa, que todos sabem que é na primavera do Hemisfério Norte. Portanto, nenhum grupo de anos da contagem de um ciclo sabático começaria nem terminaria na primavera. Os ciclos sabáticos sempre se iniciam em um Ano Novo do calendário hebreu, na Festa das Trombetas, que acontece no outono. Por isso, não faz sentido que a ‘entrada triunfal’ no ‘domingo de Ramos’, nem a morte de Jesus, fossem os eventos que encerrassem a 69ª semana de Daniel.
Jesus teve um ministério, na Terra, de três anos e meio. Seu ministério começou durante as festas de outono, quando Ele foi batizado por João Batista, no Rio Jordão (provavelmente, na altura do Dia da Expiação). O batismo foi exatamente no início da 70ª semana de anos profetizada por Daniel, e terminou exatamente no meio da 70ª semana, com a sua morte por crucificação na Páscoa, ou seja, no 14° dia do primeiro mês hebreu (hoje chamado de ‘Nisan’ ou Abib).
A expressão “um povo de um príncipe que há de vir” se refere aos romanos, povo que destruiu o Templo em Jerusalém no ano 70 D.C., sob o comando de Tito, durante o reinado do imperador Vespasiano. Sobre o termo “inundação”, é uma linguagem metafórica que se refere ao numeroso exército que assolou Jerusalém. Tito utilizou quatro legiões de soldados romanos que, figurativamente, ‘inundaram’ a cidade.
Devido à incredulidade do povo judeu, o relógio profético desta profecia foi, aparentemente, pausado (ou multiplicado e adiado) no momento que o Messias foi “cortado”, ou seja, na morte de Cristo, exatamente no meio da 70ª semana de anos da profecia de Daniel. Portanto, o período desta profecia que resta ser cumprido, para o povo de Israel, é de três anos e meio.
No texto original em hebraico, no verso 26, onde menciona que o Ungido seria morto, o verbo usado é ser ‘cortado’. Aas alianças, no Antigo Testamento, eram seladas cortando um animal, com a implicação de que a parte que quebrasse a aliança sofreria um destino semelhante. Em hebraico, o verbo que significa ‘selar uma aliança’ (כָּרַת ou ‘kârath’) é traduzido literalmente como “cortar” ou “ser cortado”. É presumido pelos estudiosos judeus que a remoção do prepúcio representa, simbolicamente, um selamento da aliança.
Vemos, portanto, que a expressão “ser cortado” significa, tanto, “morrer”, quanto servir como sacrifício no selamento de um acordo ou aliança entre duas ou mais partes. Jesus foi crucificado e foi o “sacrifício cortado”.
A morte de Jesus foi o sacrifício ‘cortado’ para selar uma nova aliança, como vemos nas seguintes passagens:
“Jesus tornou-se, por isso mesmo, a garantia de uma aliança superior.” Hebreus 7:22
“Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: “Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados.” Mateus 26:27-28
“quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, para que sirvamos ao Deus vivo! Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira aliança.” Hebreus 9:14-15
Sobre quem confirma o acordo / aliança no verso 27, vamos examinar novamente os versos 26 e 27:
“…será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e um povo de um príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário.” E no verso 27, diz: “E ele firmará aliança com muitos por uma semana…”.
Quem é o “ele”, do verso 27? Analisando os versos 26 e 27, temos três opções:
- Opção a: um príncipe que haveria de vir (Tito);
- Opção b: um povo de um príncipe que haveria de vir (os romanos);
- Opção c: o Messias, citado imediatamente antes, com artigo definido.
O “ele” do verso 27 não está se referindo nem a um príncipe que haveria de vir (artigo indefinido) nem a um povo do príncipe (ambos têm artigo indefinido). Refere-se ao Messias, citado logo antes. Ele sim, confirmaria a aliança. Está falando do Messias, o Cristo. Não tem nada a ver com Tito, nem com Vespasiano, nem com os romanos, nem com o Anticristo. O Anticristo nem é mencionado neste trecho!
Quem confirmou / estabeleceu / selou a aliança foi o Messias, Cristo Jesus! Os seis objetivos listados acima, do texto da profecia, seriam cumpridos e alcançados por Cristo, e não por nenhum comandante ou imperador romano, nem pelo Anticristo! Quem cessa a transgressão, quem dá fim aos pecados, quem expia a iniquidade, quem traz a justiça eterna, quem sela a visão e a profecia (no sentido de autenticá-la), quem unge o Santíssimo, é o Senhor Jesus Cristo. O ‘Messias’ citado no verso 26 é o “ele” do verso 27, que confirma a aliança, para o cumprimento desses objetivos.
Cristo morreu, pagou pelos pecados, ungiu o Santíssimo com o seu sangue precioso e inocente, o véu do Templo foi rasgado em dois no mesmo momento, simbolizando que o crente em Cristo poderia ter acesso a Deus através da fé em Cristo, e que não havia mais a separação. Os sacrifícios de animais foram cessados algum tempo depois, com a destruição do Templo. O véu do Templo era um tecido muito espesso, feito com várias camadas. O fato de ter se rasgado ao meio, no mesmo instante da morte de Jesus foi um ato sobrenatural, em que Deus Pai autenticou / ratificou a validade da nova aliança sendo feita por intermédio de Cristo.
É de extrema importância compreender isto, porque a Igreja não deve ficar na expectativa de que a profecia de Daniel 9 indique que determinado líder político (supostamente o Anticristo) irá assinar algum “acordo de paz” no futuro. Ele até pode vir a assinar algum tratado com quem quer que seja, pois será um líder mundial; mas a aliança à qual a profecia de Daniel 9:27 se refere, nada tem a ver com o Anticristo, e sim com o próprio Cristo! Diz respeito à aliança feita por Deus, por meio de Cristo, que deu a sua própria carne como selo dessa nova aliança.
Muitos estudantes de profecia acham que algum líder mundial fará um “acordo de paz” com Israel, e que o período de sete anos que antecede a volta de Cristo começará com a assinatura deste suposto acordo. Esse entendimento é errôneo, já que o início do período final de sete anos (para a Igreja) não depende de assinatura de nenhuma aliança ou acordo de paz, e sim do momento que Deus determinar para o início desse período final de sete anos. Cuidado, também, se algum chefe de nação ou de organização vier a assinar algum acordo de paz com Israel, para não interpretar que esse líder necessariamente seja o futuro Anticristo nem supor que o período da ‘tribulação’ começa a partir da assinatura desse ‘acordo’!
Aí você pode estar com a seguinte dúvida: afinal, quando começará o período da tribulação que precede a 2ª Vinda de Cristo? Veja a resposta em nosso artigo neste link.
É de fundamental importância reler, reavaliar e compreender o que esta passagem realmente está querendo dizer. Deus respondeu à oração de Daniel, por meio do anjo Gabriel, explicando as dúvidas que o seu leal servo tinha sobre o seu povo e sobre o retorno à sua terra, e muito mais ainda. A primeira metade da 70ª semana de anos de Daniel já aconteceu e, a partir da morte do Messias, o relógio profético, aparentemente, foi pausado. Cerca de 20 séculos transcorreram, e o relógio profético será retomado, quando a segunda metade da 70ª semana começar. A profecia não fala de que o Anticristo assinaria algum acordo de paz ou aliança. Esta interpretação não decorre da leitura cuidadosa do texto, e sim de uma interpretação equivocada.
O sinal que o povo de Daniel (os judeus/israelitas) deve esperar, para a retomada da segunda metade da 70ª semana de anos profetizada por Daniel (interrompendo a aparente ‘pausa’ do relógio profético), é o evento chamado a Abominação Desoladora, que será quando o Anticristo se sentará no trono de Deus, no Templo em Israel, querendo parecer Deus, conforme dito por Jesus em Mateus 24 e conforme explicado pelo apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2:4. Nesse momento, os judeus/israelitas que estiverem em Israel deverão fugir, porque começará uma implacável perseguição. Cristo virá socorrer o ‘remanescente de Israel’, abrindo uma brecha no Monte das Oliveiras e conduzindo-os ao deserto. A partir do dia da Abominação Desoladora, começará a segunda metade da 70ª Semana de Daniel, faltando três anos e meio para a 2ª Vinda de Cristo.
Quanto ao sinal que os crentes devem esperar, para a aproximação do momento do arrebatamento, será o ‘sinal do dragão’ descrito em Apocalipse 12, que envolve uma guerra ou invasão em Israel (a ‘mulher’ de Apocalipse 12 entrando em ‘trabalho de parto’), e a manifestação de seres extradimensionais, que são anjos caídos enviados por Satanás (o ‘dragão’ lançando um terço de suas ‘estrelas’ na Terra).
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