relógio profético

Quando Cristo morreu, o ‘relógio profético’ foi pausado?

Artigo revisado em nov/2024

Introdução

Em outra postagem, falamos sobre a profecia das 70 Semanas de Daniel, e explicamos o seu significado. A passagem bíblica pode ser aberta em outra janela, clicando neste link. Ela é apenas uma pequena parte do livro de Daniel, que pertence ao Antigo Testamento da Bíblia.

Se você não está familiarizado com a Profecia das 70 Semanas, recomendamos que só leia o artigo a seguir depois de ler o anterior, neste link.

Vimos que a essa profecia, que é sobre a cidade de Jerusalém e o Messias (Jesus, o Cristo), menciona um conjunto de acontecimentos que viriam a se realizar ao longo de 490 anos (70 conjuntos de 7 anos). A contagem dos 490 anos seria contada a partir do decreto do rei persa Artaxerxes, que ocorreu entre 457 a.C e 458 a.C, e terminaria algum tempo após a morte do Messias. Como os judeus estavam familiarizados com ciclos sabáticos de anos, a contagem seria realizada a partir de um Ano Novo do calendário hebreu que viesse após o decreto.

Muitos acontecimentos foram profetizados para se cumprirem no decorrer desses 490 anos; dentre eles, especialmente, a reconstrução da cidade de Jerusalém e, bem mais adiante, a vinda do Messias e a Sua morte, com detalhes impressionantes sobre o momento de tais acontecimentos, assim como a destruição do Templo e a invasão de Jerusalém, posteriormente.

De fato, Jesus, depois das 62 semanas (que sucederam as 7 semanas iniciais — o que equivale a dizer: “depois das 69 semanas”), o Messias prometido a Israel veio exatamente na época prevista, e ‘foi cortado’ (morreu e foi o sacrifício que sela um acordo) conforme predito na profecia. Cerca de 40 anos após a Sua morte na cruz, o templo foi incendiado e totalmente destruído (ano 70 d.C), e a cidade de Jerusalém foi sitiada e invadida por várias legiões de tropas romanas, que corresponderam a uma ‘inundação’ de soldados (um ‘dilúvio’), sob o comando do general Tito (o ‘príncipe’), que depois veio a se tornar imperador romano.

O cumprimento exato dessa profecia, dada mais de quatro séculos antes, com impressionante acurácia, autentica a sua origem divina. Os líderes religiosos judeus do 1° século, e aqueles do povo judeu que estudavam as escrituras (o livro de Daniel é parte do Tanakh, a Bíblia judaica), deveriam estar preparados para reconhecer Jesus como o Messias e futuro rei de Israel, em razão do momento da Sua vinda e ministério, especialmente diante de tantos prodígios, sinais e milagres. Ao contrário, seja por desconhecimento, por orgulho ou por falha em interpretar o livro de Daniel, seja por rejeição da pessoa humilde que Jesus foi, as autoridades religiosas da época O rejeitaram como o Messias prometido. Alguns dias antes da Sua morte, em Sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus se entristeceu sobremaneira ao entrar na cidade, porque sabia da futura tragédia que aconteceria no templo, com a cidade e os seus habitantes, justamente por causa da incredulidade deles, o que, de fato, veio a se cumprir. Note que Jesus conhecia a profecia de Daniel e sabia exatamente o que iria acontecer:

“E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, Dizendo: Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos.
Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todos os lados;
E te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação.”
Lucas 19:41-44

A passagem indica que, se eles tivessem ‘reconhecido o tempo da visitação’ e acolhido e honrado Jesus como o Messias de Israel, a tragédia sobre Jerusalém não teria acontecido.

A profecia das 70 Semanas também fala do aparecimento de um ‘assolador’, que viria sob um contexto de abominação, e que destruição viria a ser derramada sobre ele. Sabemos que o assolador é um futuro personagem da história, que será a Besta do Apocalipse, o 8º Rei ou, simplesmente, o ‘Anticristo’. Contudo, esse personagem não apareceu ainda e já se passaram quase 2000 anos. Em nosso entendimento, a profecia das 70 Semanas de Daniel foi integralmente cumprida até o fim da 1ª metade da 70ª Semana, momento em que Jesus foi crucificado. Depois disso, um adiamento parece ter ocorrido e o ‘assolador’ não apareceu.

Sabemos, ainda, que o que acontece para a derrota do Anticristo é o retorno de Cristo. Portanto, quando a 70ª semana chegar ao fim, acontecerá a 2ª Vinda visível e gloriosa de Cristo.

Pausa no relógio profético?

Como decorrência da interrupção no curso dos acontecimentos profetizados, teólogos e estudiosos de escatologia entenderam que, em razão da incredulidade e da rejeição de Jesus pelos judeus, e a Sua morte na cruz, o relógio profético teria sido temporariamente ‘pausado’, por tempo indeterminado, ‘até que entrasse a plenitude dos gentios’, como diz a passagem em Romanos 11:25-27:

“Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados.”

Diante da tese da ‘pausa’ no relógio profético, as indagações naturais que podem surgir para um interessado em estudo bíblico e escatologia são:

  • Por quanto tempo durará essa suposta ‘pausa’ no relógio profético?
  • Quando será retomada a segunda metade da 70ª semana, que teria sido ‘pausada’ em termos de cumprimento profético?
  • Quando o Anticristo irá se manifestar?
  • Quando Jesus voltará, destruindo o Anticristo?
  • A tese da ‘pausa no relógio profético’ tem sustentação?
  • Haveria alguma interpretação alternativa, que não a ‘pausa no relógio profético’, com amparo bíblico, para o fato de os acontecimentos proféticos no fim da 1ª metade da 70ª semana, quando da morte de Cristo, terem sido adiados?

Esses são os temas que discutimos neste artigo.

Precedente na Bíblia

No Antigo Testamento, devido à distância relativamente curta — 200 km — entre o Egito e a Terra Prometida, onde ficava a ‘Terra de Canaã’ (que posteriormente veio a ser chamada a terra de Israel), os israelitas poderiam ter chegado lá em cerca de 40 dias.

Depois de o povo hebreu ter sido escravizado no Egito durante 430 anos, após o êxodo, liderado por Moisés, sob o poder de Deus, os israelitas presenciaram os mais impressionantes milagres! Deus, por meio de Moisés, abriu o Mar Vermelho para que atravessassem, e eles conseguiram fugir dos egípcios. Mesmo assim, após atravessarem o Mar Vermelho, murmuraram continuamente, pelo fato de terem chegado a um deserto, e não à Terra Prometida. Mesmo com a forte mão de Deus, não acreditavam que poderiam sobreviver, naquela travessia, sem água e comida. Revoltaram-se contra Deus e contra Moisés, questionando por que foram tirados do Egito para morrerem de fome e de sede, no deserto.

De maneira sobrenatural, Deus proporcionou água e comida para os israelitas; ainda assim, eles diziam que não aguentavam mais o maná, e tinham saudade da comida e dos temperos do Egito. Viviam insatisfeitos e reclamando. Adoraram um falso deus — um bezerro de ouro —, enquanto Moisés subiu ao monte para falar com Deus. Achavam que Moisés os tinha abandonado. As tábuas da lei, contendo os Dez Mandamentos, foram escritas com o dedo de Deus, enquanto falava com Moisés no monte.

Apesar de tantos milagres presenciados pelos israelitas, como a abertura do mar diante de seus olhos, a queda do maná e de codornizes do céu, uma nuvem durante o dia para lhes fazer sombra no deserto e um pilar de fogo durante a noite para aquecê-los, ainda assim, o povo tinha o coração endurecido, era ingrato e vivia em ceticismo. Não obedeceram aos mandamentos de Deus, criaram estátuas de ídolos para adorar, e queriam um deus com rosto, e não um invisível. Mesmo diante de tantos milagres assombrosos, feitos continuamente em seu favor, eles não confiaram em Deus.

Com tanta incredulidade e murmuração, os israelitas, em vez de seguirem em linha reta, se moveram em círculos, e demoraram cerca de dois anos até chegar em local próximo à Terra de Canaã, quando um representante de cada uma das 12 tribos foi espiar a terra, que era fértil e muito frutífera, mas havia homens muito mais fortes que eles, gigantescos. Depois de 40 dias, ao retornarem para relatarem o que viram, dos 12 espias, somente Josué e Calebe fizeram um relato positivo e incentivaram que entrassem em Canaã. Os outros disseram que não deveriam entrar, porque jamais prevaleceriam contra os homens gigantescos que viviam lá, e que a derrota seria certa.

Nos 10 primeiros versículos do capítulo 14 de Números, vemos que a congregação de Israel se levantou e protestou, murmurando contra Moisés e contra Arão, desejando que tivessem morrido e propondo voltarem ao Egito. Moisés e Arão ficaram perplexos e consternados. Josué e Calebe, indignados, manifestaram que a terra que haviam visto era excelente e que, se Deus se agradasse deles, os faria entrar lá. Disseram, ainda, que eles não deveriam se rebelar contra Deus nem se apavorarem, porque Deus continuaria os protegendo e favorecendo. Apesar disso, em incredulidade e rebelião, toda a congregação disse que os apedrejassem.

Agora, vamos examinar a continuidade do relato de Números 14, transcrevendo os versos de 10 a 39, que mostram qual foi o critério que Deus usou, diante da situação de tamanha incredulidade e rejeição a tudo o que Ele havia feito para os israelitas, poderosamente tirando-os do Egito, com dezenas de situações extraordinariamente sobrenaturais, e conduzindo-os nutridos e em segurança até os limites de Canaã:

“Apesar disso, toda a congregação disse que os apedrejassem; porém a glória do Senhor apareceu na tenda da congregação a todos os filhos de Israel.

Disse o Senhor a Moisés: Até quando me provocará este povo e até quando não crerá em mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio dele? Com pestilência o ferirei e o deserdarei; e farei de ti povo maior e mais forte do que este.

Respondeu Moisés ao Senhor: Os egípcios não somente ouviram que, com a tua força, fizeste subir este povo do meio deles, mas também o disseram aos moradores desta terra; ouviram que tu, ó Senhor, estás no meio deste povo, que face a face, ó Senhor, lhes apareces, tua nuvem está sobre eles, e vais adiante deles numa coluna de nuvem, de dia, e, numa coluna de fogo, de noite. Se matares este povo como a um só homem, as gentes, pois, que, antes, ouviram a tua fama, dirão: Não podendo o Senhor fazer entrar este povo na terra que lhe prometeu com juramento, os matou no deserto. Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça, como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo e grande em misericórdia, que perdoa a iniquidade e a transgressão, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta gerações. Perdoa, pois, a iniquidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia e como também tens perdoado a este povo desde a terra do Egito até aqui.

Tornou-lhe o Senhor: Segundo a tua palavra, eu lhe perdoei. Porém, tão certo como eu vivo, e como toda a terra se encherá da glória do Senhor, nenhum dos homens que, tendo visto a minha glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, todavia, me puseram à prova já dez vezes e não obedeceram à minha voz,
nenhum deles verá a terra que, com juramento, prometi a seus pais, sim, nenhum daqueles que me desprezaram a verá. Porém o meu servo Calebe, visto que nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-me, eu o farei entrar a terra que espiou, e a sua descendência a possuirá. Ora, os amalequitas e os cananeus habitam no vale; mudai, amanhã, de rumo e caminhai para o deserto, pelo caminho do mar Vermelho. Depois, disse o Senhor a Moisés e a Arão:
Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra mim? Tenho ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra mim. Dize-lhes: Por minha vida, diz o Senhor, que, como falastes aos meus ouvidos, assim farei a vós outros. Neste deserto, cairá o vosso cadáver, como também todos os que de vós foram contados segundo o censo, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes;
não entrareis na terra a respeito da qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num. Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão, farei entrar nela; e eles conhecerão a terra que vós desprezastes. Porém, quanto a vós outros, o vosso cadáver cairá neste deserto. Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado. Eu, o Senhor, falei; assim farei a toda esta má congregação, que se levantou contra mim; neste deserto, se consumirão e aí falecerão.

Os homens que Moisés mandara a espiar a terra e que, voltando, fizeram murmurar toda a congregação contra ele, infamando a terra, esses mesmos homens que infamaram a terra morreram de praga perante o Senhor. Mas Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, que eram dos homens que foram espiar a terra, sobreviveram. Falou Moisés estas palavras a todos os filhos de Israel, e o povo se contristou muito.” Números 14:10-39

A passagem acima mostra que, diante da situação de total incredulidade e falta de confiança dos israelitas em Deus, nada foi “pausado”; o período em que eles espiaram a terra simplesmente foi multiplicado pelo número de dias de um ano, transformando-se em 40 anos. Portanto, com a indignação de Deus, o castigo aplicado aos israelitas, como punição pelo ceticismo, mesmo depois de tudo o que havia sido feito em favor deles, foi o fato de eles serem deixados no deserto e lá perecerem. Somente a geração seguinte, depois de transcorridos 40 anos, entraria na Terra Prometida, além de Calebe e Josué, que foram poupados por crerem e confiarem em Deus.

Nos versos a seguir, vemos que Deus retirou a Sua proteção e o Seu favor para com os que haviam transgredido, e eles foram feridos pela espada, e derrotados pelos amalequitas e pelos cananeus, caindo mortos no deserto tal como Deus havia falado, no verso 43. O restante da passagem pode ser lido neste link.

Sugerimos que releia todas as passagens acima, e medite sobre o padrão aplicado:

Moisés, como um tipo (figura) de Cristo, intercedeu pelo seu povo, em oração, e pediu que Deus os perdoasse, o que Deus aceitou. Depois que Deus ouviu a oração de Moisés e concedeu o seu perdão, Ele não ‘pausou’ o Seu relógio mas, em vez disso, transformou 40 dias em 40 anos (verso 34). Assim, o relógio profético não foi ‘pausado’, mas um novo critério foi adotado (anos proféticos, em vez de dias). Não sabemos se a multiplicação foi por 360 (dias de um ano profético) ou por 365 dias.

Quanto aos israelitas que sobreviveram no deserto, eles não continuaram lá por 40 anos a partir do ponto em que o critério foi estendido. Como eles já haviam perambulado no deserto por dois anos, o período já transcorrido foi computado, e a contagem dos 40 anos aplicou-se a partir do início do momento em que eles começaram perambular no deserto. A contagem incluiu o início da jornada deles, durante 2 anos, antes do alongamento / multiplicação do tempo. Portanto, ainda haveria 38 anos adicionais para perambularem no deserto, antes de entrarem na Terra Prometida.

Analogia no Novo Testamento

Analisando, agora, se esse padrão seria aplicável no Novo Testamento, observamos que, após o momento em que os judeus da época, em seu orgulho e incredulidade, rejeitaram Jesus como Messias e Rei de Israel, o Senhor Jesus — ainda na cruz —, da mesma forma que Moisés, intercedeu em oração e pediu que Deus os perdoasse. Em Lucas 23:34, lemos: “Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda. Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Lucas 23:33-34a

Seguindo o padrão observado em Números 14 e, ainda mais em se tratando de quem fez a oração (Jesus!), é mais que razoável supor que Deus a aceitou. No entanto, pela semelhança da situação, tudo indica que, naquele momento, Deus adotou o mesmo critério que havia anteriormente adotado para os israelitas no deserto, na situação de incredulidade acima narrada: Deus teria multiplicado a 70ª semana da profecia de Daniel pelo número de dias de 1 ano, prorrogando a duração e o término da 70ª semana. Nesse caso, não teria ocorrido uma “pausa” no relógio profético, mas uma multiplicação do tempo para a última ‘semana’ da profecia das 70 Semanas!

Assim como os 40 anos adicionais descontaram os 2 anos que os israelitas haviam perambulado no deserto, um critério análogo de compensação seria adotado no caso da multiplicação da 70ª semana. Como 69 ½ ‘semanas de anos’ já haviam transcorrido desde o início do Ano Novo do calendário hebreu que sucedeu o decreto do rei Artaxerxes, o novo prazo, agora multiplicado, a ser computado para as 70 Semanas de Daniel, parte do qual já havia transcorrido, teria como início o mesmo ponto de origem: o Ano Novo hebreu imediatamente subsequente ao decreto do rei Artaxerxes para reconstruir Jerusalém, e não a partir do momento na crucificação.

Se multiplicarmos a duração da última ‘semana’ por 360 dias proféticos, temos 2520 dias proféticos no total, que seria a duração original da 70ª semana (ou qualquer outra ‘semana’ daquela profecia). Se Deus aplicasse a multiplicação por 360 dias proféticos para a 70ª semana, então teríamos 2520 dias da 70ª semana multiplicados por 360, resultando em 907.200 dias proféticos.

Antes de calcular em que ano terminaria a 70ª semana no “padrão estendido”, vamos, primeiro, calcular em que data chegaríamos ao término da 69ª semana no padrão anterior / original da profecia.

Cálculo da data do término da 69ª semana no padrão original da profecia

Boa parte dos historiadores define o ano de 457 a.C como o ano do decreto de Artexerxes, mas há controvérsias. Poderia ser um pouco antes ou um pouco depois. Vamos ensair com essa hipótese, usando o Dia da Expiação (10 de Tishri) como o dia do início da contagem. 69 semanas de anos de 365,2422 dias equivalem a 176412 dias.

Observação importante: Embora, normalmente, consideremos “anos proféticos” como sendo de 360 dias (especialmente quando se trata da transformação de ‘dias’ em ‘anos’), o fato é que o calendário hebreu não tem sempre 360 dias. 69 Semanas de anos iriam transcorrer por completo, e cada conjunto de 7 anos da contagem precisaria terminar em alguma data entre o Ano Novo do calendário hebreu (1 de Tishri) e o Dia da Expiação (10 de Tishri), pois tratava-se de ciclos sabáticos, sempre ligados ao Ano Novo do calendário hebreu. Esta margem de 10 dias está sendo dada porque não sabemos se a contagem logo após o decreto de Artaxerxes teve início em um Ano Novo comum (1 de Tishri) ou no Dia da Expiação (10 de Tishri), considerando que, em anos do Jubileu, o Jubileu era declarado no Dia da Expiação e não no dia do Ano Novo normal. Para que um conjunto de 7 anos terminasse nesse intervalo, é essencial levar em consideração que alguns anos do calendário hebreu são bissextos, com 1 mês inteiro a mais que os outros anos (O simples fato de outro trecho profético do próprio livro de Daniel mencionar período de 1290 dias, provavelmente para fazer referência a três anos e meio, comprova que há contagens que podem considerar um ano que contém um mês adicional). Em uma profecia que cobre um período de 490 anos, a desconsideração dessa realidade, multiplicando tudo por ‘360 dias’, causaria um erro colossal no cálculo do período total, além do fato de o término da contagem jamais cair em um início de Ano Novo do calendário hebreu (entre 1 e 10 de Tishri). Por isso, para o cálculo normal das 69 semanas (equivalente a 483 anos), utilizamos o critério de um ano de 365,2422 dias (duração exata do giro da Terra em torno do Sol), mitigando, assim, a imprecisão decorrente da não consideração dos anos bissextos do calendário hebreu. Um ano bissexto judaico tem entre 383 e 385 dias e ocorre 7 vezes em um ciclo de 19 anos.

Feito esse esclarecimento, vejamos os cálculos:

Origem da contagem no Dia da Expiação do ano hebreu 3305 (equivalente a 23/09/457 a.C)

  • Nesse caso, 176.412 dias depois (término da 69ª semana / início da 70ª semana ) caiu em em 23/09/0027 d.C, que equivale a 6 de Tishri de 3788. O importante aqui é o mês e o ano hebreu, porque a conversão de calendários após tão longa contagem de dias certamente tem imprecisões devido a sucessivas alterações nos calendários romano/juliano/gregoriano.
  • Então, se o início do ministério de Jesus tiver sido durante as festas de outono do ano hebreu de 3788, a Sua crucificação foi no dia 14 de Nisan 3 ½ anos depois, no ano de 3791, equivalente a 24/03/0031 d.C. Nessa hipótese, esse dia seria 3 ½ anos depois do início da 70ª semana, quando o Messias foi ‘cortado’.

Nota: Alguns estudiosos tentam fazer uma crítica da data afirmando que a crucificação precisaria acontecer em uma 6ª feira, eliminando certas datas só porque não caíram em uma 6ª feira. Discordamos frontalmente desse critério porque ele parte do princípio que os judeus do 1º Século se baseavam no calendário romano, e que o 6º dia da semana do calendário hebreu seria o equivalente à “6ª feira” do calendário romano, e que o Sabbath seria o equivalente ao “sábado” romano, o que não é o caso. O calendário hebreu é lunissolar. Todos os inícios de meses e os dias de Sabbath eram regulados com as fases da lua, e os dias da semana do calendário hebreu e romano não coincidiam. Os Sabbaths sempre caíam no dias 8, 15, 22 e 29 do mês hebreu, e coincidiam precisamente com a fase da lua. O dia 1 de um novo mês hebreu era o dia da Lua Nova (embora não fosse um Sabbath, não se trabalhava nesse dia). Após a destruição do templo em Jerusalém, ao longo dos séculos, o calendário hebreu passou por diversas mudanças e adaptações, devido a fatores como a diáspora judaica, a influência de outras culturas, a dissolução do Sinédrio e as necessidades práticas da vida cotidiana. Em 358 d.C, o calendário hebreu foi padronizado pelo rabino Hillel II, que instituiu um calendário baseado em cálculos matemáticos precisos, para evitar a confusão e incerteza sobre as datas das celebrações religiosas. A partir daí, o calendário foi totalmente alterado e, em dado momento, convencionou-se que os Sabbaths seriam equivalentes ao ‘sábado’ do calendário juliano (posteriomente gregoriano). Na época de Jesus, o 6º dia da semana do calendário hebreu não era o equivalente à “6ª feira” do atual calendário gregoriano. Portanto, descartar um ano como não sendo possível só porque o dia da crucificação não caiu em determinado dia da semana do calendário gregoriano é totalmente injustificado e errôneo.

Cálculo da data do término da 70ª semana no ‘padrão estendido’ da profecia

Se adotarmos o mesmo padrão de 1 ano = 365,2422 dias, se no dia da crucificação, Deus tiver alterado/multiplicado a duração da 70ª Semana, de um conjunto de 7 anos (2556,6954 dias) para 2556,6954 anos, então encontramos 2556,6954 x 365,2422 dias = 933.813 dias. Se adicionarmos 933.813 dias a partir do Dia da Expiação do calendário hebreu do ano 457 a.C., o cálculo resulta em um ano posterior a 2100, bastante fora do padrão de ‘1 geração’ a partir do restabelecimento de Israel como nação.

Se aqui adotarmos o padrão de 1 ano profético = 360 dias, se no dia da crucificação, Deus tiver alterado/multiplicado a duração da 70ª Semana, de um conjunto de 7 anos (2520 dias) para 2520 anos proféticos, então encontramos 2520 x 360 dias = 907.200 dias, lembrando que o início do prazo é retroativo ao ponto de origem (457 a.C.).

Se adicionarmos 907.200 dias a partir do Dia da Expiação do calendário hebreu do ano 457 a.C (23/09/457 a.C), chegamos a 22/07/2028, quando as 70 semanas da profecia, ‘alongadas’ pela multiplicação da 70ª semana, chegaria ao fim. O dia e o mês desse cálculo certamente contêm muitas imprecisões decorrentes das mudanças de calendário e da conversão de datas. Porém, o que mais chama atenção é o ano de 2028, o que é bastante curioso.

Causa certa estranheza que o critério para o cálculo para as 69 primeiras semanas de anos tenha levado em consideração a existência de anos bissextos (só funcionou com a adoção do critério de 1 ano = 365,2422 dias), e que esse mesmo critério não funcione para o cálculo da “versão estendida” /prorrogada de 1 dia se transformar em 1 ano. A multiplicação por 360 gerou um resultado dentro do limite de 1 geração (de 80 anos) após o ano de 1948.

Conclusão

Se o critério usado por Deus, diante da rebeldia e incredulidade dos israelitas no deserto, pouco depois do êxodo do Egito, logo após a oração de Moisés, tiver sido igualmente aplicado no caso da incredulidade dos judeus no início do Século I (depois de tantos milagres que eles presenciaram) no momento da crucificação de Jesus, após a Sua oração em favor deles e de todos os que O crucificaram, então, o que isso significa? Se o mesmo critério tiver sido adotado, poderíamos concluir que a tese da “pausa” no relógio profético seria equivocada e, o que teria havido, na realidade, foi um alongamento do prazo total das ’70 Semanas’. Nesse caso, a 70ª Semana que, originalmente, era de 2520 dias literais do calendário hebreu, teria sido multiplicada por 360 dias, de tal forma que o prazo final só terminaria em 907.200 dias após a data do decreto de Artaxerxes.

Não queremos ser dogmáticos em relação a essa interpretação e compreendemos que muitos prefiram optar pela tese da “pausa no relógio profético”. Contudo, com a monumental evidência do padrão usado por Deus no livro de Números, que nunca havíamos considerado como passível ser aplicada em situação bem semelhante na época da 1ª Vinda de Cristo (com um comportamento dos filhos de Israel ainda mais grave, uma vez que Jesus fez centenas de sinais, incluindo a cura de paralíticos, cegos e leprosos, e a ressurreição de pessoas comprovadamente mortas), é nosso entendimento que essa interpretação é perfeitamente possível, que faz sentido, e que, além da nova ótica (pausa x adiamento por multiplicação) temos mais uma razão para crer que a 2ª Vinda de Jesus está cada vez mais próxima, ainda que esse cálculo contenha muitas imprecisões e sequer tenhamos certeza sobre o ano do decreto de Artexerxes. Parece improvável que a 2ª Vinda seja em 2028 porque, se assim fosse, a coroação do Anticristo / Abominação Desoladora teria que ser na semana da Páscoa de 2025 (1260 dias antes), e o (primeiro) arrebatamento teria que ser no máximo até meados de novembro de 2024 (5 meses antes da Páscoa do ano seguinte), o que não aconteceu.

O nosso ponto aqui, muito mais do que mencionar possíveis datas para o término da 70ª Semana, é compartilhar o padrão, que nunca havíamos imaginado, anteriormente, como um precedente para a interpretação sobre o mistério que pode ter gerado uma impressão de ‘pausa’ no relógio profético. Pode ter sido uma prorrogação, com os eventos finais da segunda metade da 70ª Semana, originalmente previstos, acontecendo nos anos finais do término do prazo alongado.

Observe que, se você optar pela teoria da “pausa no relógio profético”, colocando o início do ministério de Cristo bem no início da 70ª Semana (quando Ele de fato foi “ungido” como o Messias, no dia do Seu batismo, por João Batista e por Deus Pai) e a Sua morte 1260 dias depois, no dia da crucificação (equivalendo ao fim da 1ª metade da 70ª Semana), a destruição de Jerusalém ficaria no período da “pausa” / ‘hiato”, quando ela também faz parte da profecia das 70 Semanas e não poderia ficar perdida no tempo. Já na teoria da multiplicação / extensão da duração da 70ª Semana devido à incredulidade dos judeus, a destruição de Jerusalém, ocorrida no ano de 70 DC, não ficaria inserida no “hiato”, e sim incluída em um prazo que foi estendido/adiado.

Seja qual for a forma correta de interpretação — a da ‘pausa’ no relógio profético ou o adiamento decorrente da multiplicação da 70ª Semana por 360 dias —, o que podemos saber, com toda certeza, é que devemos confiar em Deus, crendo em Seu plano de salvação pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo, e perseverarmos para servimos a Deus da melhor maneira. Como Calebe e Josué, devemos ser confiantes, corajosos e viver com alegria. Como crentes, salvos pelo sangue do Senhor Jesus Cristo, não temos motivo algum para temermos o que quer que seja, porque estamos a salvo na maravilhosa graça do Senhor Jesus, como a nossa Rocha firme e muito preciosa.

Concordando você, ou não, com a tese da prorrogação do relógio profético, esperamos que este artigo, ou alguma parte dele, tenha servido para você ser edificado e abençoado.

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