pergaminho

O pergaminho selado de Apocalipse 5: o título de propriedade da Terra

Artigo traduzido e adaptado do original em inglês, de autoria do Dr. Floyd Nolen Jones

“Vi, na mão direita daquele que estava sentado no trono, um pergaminho (‘livro’) escrito por dentro e por fora, de todo selado com sete selos.” Apocalipse 5:1

O que é o pergaminho (“livro”) de Apocalipse 5? Como diz o verso 1, esse pergaminho tem textos escritos por dentro e por fora. A selagem de um pergaminho era uma prática comum e importante nos tempos bíblicos. Os documentos mais comuns que tinham 7 selos, na época em que o apóstolo João escreveu este versículo, eram os testamentos. Por exemplo, os do imperador Vespasiano e de César Augusto foram protegidos com 7 selos.

Um escriba pegava um longo rolo de pergaminho e começava a escrever. Após um período redigindo, ele fazia uma pausa, enrolava o pergaminho o suficiente para cobrir as linhas que escreveu até então e selava aquele trecho do pergaminho com um lacre de cera. Então ele recomeçava a escrever, pausava de novo, enrolava o pergaminho e acrescentava outro lacre/selo. Assim, quando terminasse, teria selado o pergaminho várias vezes. O pergaminho seria lido uma seção de cada vez, após a abertura de cada selo. Isso era feito para evitar que pessoas não autorizadas lessem, pudessem revelar o seu conteúdo ou adulterassem o pergaminho. Apenas uma pessoa “digna” — alguém com a devida autoridade — poderia ter acesso ao conteúdo e a mensagem do pergaminho. A abertura de um pergaminho ou documento selado exigia que determinados requisitos fossem atendidos.

Mas, novamente, o que é esse pergaminho? Esse pergaminho é o título / escritura de propriedade do planeta Terra — ele contém a vontade de Deus para o homem. Embora isso não seja explicado no contexto imediato, é claramente o antítipo do ensino tipológico associado aos procedimentos específicos de Deus para a redenção de terra e de pessoas, conforme encontrado no Antigo Testamento.

Esse pergaminho contém as instruções de Deus sobre o domínio sobre a Terra e sobre tudo o que estivesse nela. Essas foram as instruções de Deus para Adão — o cabeça da raça humana. No entanto, Adão caiu antes de abrir os selos. Sob tentação, ele pecou e tornou-se indigno e desqualificado para abrir o pergaminho. Naquela época, Satanás arrebatou o título de Adão, em uma tentativa desesperada de frustrar os planos e propósitos de Deus para o homem — o que inclui a própria condenação de Satanás e o seu banimento eterno.

Quando Deus deu a Adão o domínio sobre a Terra, o homem se tornou o soberano delegado do planeta Terra. Quando Adão escolheu obedecer a Satanás, ele oficialmente perdeu, para Satanás, o seu direito de governar o mundo. Naquele momento, o Diabo legalmente assumiu o domínio da Terra.

Legalmente, a Terra pertence à raça de Adão, mas, como resultado da capitulação de nosso antepassado a Satanás, com o resultado subsequente de que ele se tornou escravo de Satanás (V. Romanos 6:16), nem Adão nem nenhum de seus descendentes — pelo fato de escravos gerarem escravos — podem se qualificar para pagar o preço de redenção da terra perdida e do seu povo. Como escravos, eles perderam todos os direitos legais de sua pessoa e do seu domínio. Os escravos não tinham o direito de possuir propriedade, nem autoridade para governar, ou até mesmo o direito legal de entrar no tribunal para entrar com uma ação judicial para tentar resgatar o que foi perdido por meios enganosos, porque escravos não tinham direitos legais.

A única forma de a humanidade recuperar o que foi perdido é encontrar alguém que seja digno/apto, e que esteja disposto a fazer a restituição da dívida do homem. Observe as seguintes passagens:

Apocalipse 5:2-10: “Vi, também, um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o pergaminho (‘livro’) e de lhe desatar os selos? Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro, nem mesmo olhar para ele; e eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para ele. Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos. Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto.

Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono; e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.”

Ao olhar para esse grande pergaminho, João chorou muito porque não foi encontrado nenhum homem que não estivesse maculado com o pecado geneticamente herdado de Adão. Nenhum homem ou anjo no universo poderia reivindicar o direito de abrir esse pergaminho. Será que alguém poderia ser encontrado para redimir a herança perdida do homem, ou estaria tudo perdido?

Os versículos acima revelam a única Pessoa que se qualifica para pagar o preço de redenção e recuperar a herança perdida. É o Deus-homem, Jesus, o Cristo (o Messias), que pagaria a dívida por voluntariamente oferecer a própria vida.

“E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2:16,17

A Terra é, em última análise, possessão permanente de Deus, por direito da Criação, e nada pode alterar esse fato. Satanás meramente conquistou a posição de ‘vice-regente’ da Terra (‘príncipe’), não de rei, nem nem dono.

Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu.” Salmos 24:1,2

No tipo, isso foi significado pelo dom permanente de Deus de uma porção de Sua terra para cada família de Seu povo escolhido, Israel.

“Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos. Portanto, em toda a terra da vossa possessão dareis resgate à terra. Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu.” Levítico 25:23-25

Assim como um israelita poderia vender ou perder o seu pedaçõ de terra por um tempo, Adão perdeu o seu domínio dado por Deus, sobre a Terra. Satanás tornou-se o “deus deste mundo” (2 Coríntios 4:4). Mas esta situação só poderia ser superficial e temporária, pois:

“Os céus são os céus do Senhor , mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.” Salmos 115:16

Uma propriedade perdida em Israel poderia ser resgatada por qualquer parente, pelo preço de venda, se ele estivesse apto e disposto a fazê-lo.

Mas quem e onde está aquele que é parente e redentor, aquele que tem, cumulativamente, o direito e o poder para tomar “as extremidades da Terra por sua possessão” (Salmos 2:8)?

A identidade do herdeiro legítimo deve ser determinada e a descrição é muito específica. Precisa ser um homem, não um anjo, pois a propriedade perdida, a ser recuperada, era de um homem.

Além disso, Deus nunca deu domínio sobre a terra aos anjos:

“Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando”. Hebreus 2:5

E, novamente: “Os céus são os céus do Senhor , mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.” Salmos 115:16

Portanto, nenhuma das hostes angelicais no céu e, muito menos, as hordas demoníacas de Satanás, poderiam se qualificar para a função de parente redentor. Embora tenha havido bilhões de descendentes de Adão, nenhum deles poderia se qualificar como ‘parente redentor’ pela razão adicional de que suas próprias almas estão incluídas na propriedade a ser resgatada. Em toda a história do mundo, “não há justo, nem um sequer” (Romanos 3:10).

“Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o pergaminho (‘livro’), nem mesmo olhar para ele.” Apocalipse 5:3

Nenhum dos anciãos em torno do trono poderia se atrever a sequer olhar para o pergaminho (o ‘livro), apenas para ver se ele se qualificaria. Todos eles experimentaram o fogo purificador de Cristo Jesus sobre suas obras (1 Coríntios 3:11-15) e de Sua presença… e até mesmo foram feitos conforme a Sua imagem (Romanos 8:29). Mas foi apenas por Sua Graça — não por qualquer mérito próprio. Aquele que poderia abrir o pergaminho precisaria fazê-lo pelo seu próprio mérito demonstrado, não um mérito imputado.

O único capaz de redimir a terra é o próprio Criador — o dono original. Mas, para ser um parente de Adão, Ele precisaria primeiro se tornar um homem genuíno — o 2º homem, o último Adão (1 Coríntios 15:45 e 47).

É preciso lembrar que, nesse caso, o preço da redenção foi muitíssimo mais que algo monetário:

“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós.” 1 Pedro 1:18-20

O Cordeiro de Deus, sem pecado, precisaria morrer e tirar o pecado do mundo (João 1:29).

Mas mesmo depois que o preço foi pago, é preciso que haja a evicção do grande usurpador da propriedade redimida, para que o resgate seja completado. O dono legítimo está no céu preparando uma grande cidade como um lar para os seus redimidos, para trazer de volta com Ele, quando Ele voltar para tomar posse da Terra redimida.

Isso também é retratado tipologicamente no Antigo Testamento, desta vez, em termos da longa ausência de toda a nação de Judá de sua terra durante o cativeiro babilônico. Como sinal de sua fé de que Deus finalmente restauraria a terra para eles, como havia prometido, o profeta Jeremias, seguindo as instruções de Deus, adquiriu um pedaço de terra à qual ele tinha direito de comprar, como parente redentor, apesar de saber que os invasores babilônicos (como Satanás) iriam usurpar a terra por 70 longos anos (Jeremias 25:11).

A evidência da transação foi enterrada até que os invasores fossem expulsos e os herdeiros legítimos pudessem voltar para reivindicá-lo:

“Comprei, pois, de Hananel, filho de meu tio, o campo que está em Anatote; e lhe pesei o dinheiro, dezessete siclos de prata. Assinei a escritura, fechei-a com selo, chamei testemunhas e pesei-lhe o dinheiro numa balança. Tomei a escritura da compra, tanto a selada, segundo mandam a lei e os estatutos, como a cópia aberta; dei-a a Baruque, filho de Nerias, filho de Maaseias, na presença de Hananel, filho de meu tio, e perante as testemunhas, que assinaram a escritura da compra, e na presença de todos os judeus que se assentavam no pátio da guarda.

Perante eles dei ordem a Baruque, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Toma esta escritura, esta escritura da compra, tanto a selada como a aberta, e mete-as num vaso de barro, para que se possam conservar por muitos dias; porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda se comprarão casas, campos e vinhas nesta terra.” Jeremias 32:9-15

A escritura de compra e venda era escrita e selada. Uma segunda via também era gerada e deixada aberta para servir de prova do que estava na cópia lacrada e estar disponível como registro e referência. A cópia lacrada, no entanto, só podia ser aberta pelo legítimo proprietário, e a transação só seria consumada quando ele se apresentasse para quebrar os selos e exibir a escritura oficial e o direito de propriedade.

No caso de Jeremias, como não havia lugar seguro para guardar os registros, ambas as vias foram enterradas juntas. Jeremias confiava que Deus, de alguma forma, direcionaria seus herdeiros de volta para reivindicar a sua herança. O pergaminho do título celestial é apenas um, porém a sua importância é a mesma, porque foi escrito por dentro e por fora, não havendo, portanto, a necessidade de dois pergaminhos. O texto — que é o registro aberto — foi publicado para toda a Criação.

Este é o pano de fundo do drama que se desenrola no capítulo 5 de Apocalipse. O Cordeiro pagou o preço para redimir e recuperar o mundo perdido. Satanás foi levado perante o Juiz e, em vista de seu ato de garantir a morte de Jesus na cruz (Ver Hebreus 2:14,15) — mesmo que Jesus voluntariamente tenha permitido que isso acontecesse — Satanás é declarado um assassino. O título de propriedade que ele obteve de Adão, ao derrotá-lo, foi retirado de sua posse pelo Pai-Juiz com base no fato de que os assassinos não têm direito legal de possuir escravos nem propriedades.

No verso 7, vemos o Senhor Jesus recebendo o livro do Juiz em virtude de ter trazido o seu próprio sangue para o verdadeiro tabernáculo, no céu, como testemunho de que a dívida do pecado do homem havia sido paga. O Seu sangue deu testemunho de que uma vida, uma vida sem pecado, havia sido tirada.

“Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida.” Hebreus 2:14,15

“(Jesus) no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça.” Efésios 1:7

Historicamente, a cena do capítulo 5 ocorreu na manhã da ressurreição — e Davi a previu!

“Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamarei o decreto do Senhor : Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.” Salmos 2:6,7

O livro de Atos nos diz que o cumprimento final desses versículos foi na ressurreição:

“Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais, como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.” Atos 13:32,33

‘Gerar’ significa ‘dar vida’. Na manhã da ressurreição, o cadáver de Jesus jazia no sepulcro, e o Pai, pelo Espírito Santo, O ressuscitou (1 Pedro 3:18). Os versos acima nos dizem quando aconteceu o “hoje te gerei” do 2º Salmo (compare 1 Pedro 1:3 para um exemplo similar).

Daniel também viu o mesmo grande evento em uma visão:

“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.” Daniel 7:13,14

Embora o pergaminho esteja com o Pai desde o dia em que Cristo ascendeu ao céu com o Seu sangue, Cristo ainda não o abriu. Ele abrirá o primeiro dos 7 selos alguns anos antes de Seu retorno. Isso vai dar início ao período da tribulação, que culminará com o retorno visível e glorioso de Jesus à Terra. Ele então fará a evicção do usurpador, consumará a redenção completa de Sua propriedade comprada com muito amor, e estabelecerá o Seu reinado de 1.000 anos sobre a Terra, no trono de Davi.

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[Nota: se quiser ler um livro bem curto, da Bíblia, que conta uma história em que há o exercício do direito de redenção da terra e a lei do levirato, sugerimos o livro de Rute. Neste blog, temos um artigo, em duas partes, sobre o livro de Rute. A primeira parte está neste link].

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