No capítulo 14 do livro de Apocalipse, um determinado grupo é mencionado: os 144.000 de Israel (daqui por diante, abreviado como os ‘144k’). Muitos têm dúvidas sobre esse grupo. Neste artigo, vamos explicar quem são os 144k, dentro dos limites do que é dito direta ou simbolicamente, na Bíblia.
Primeiramente, vejamos a passagem que fala sobre esse grupo, em diferentes traduções:
Tradução Almeida Revista e Atualizada (‘ARA’):
“⁴ São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro; ⁵ e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula.” Apocalipse 14:4,5 ARA
Tradução Almeida Corrigida e Fiel (‘ACF’):
“⁴ Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. ⁵ E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus.” Apocalipse 14:4,5 ACF
Tradução Nova Almeida Atualizada (‘NAA’):
“⁴ Estes são os que não se macularam com mulheres, porque são virgens. Eles seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá. São os que foram comprados dentre todos os seres humanos, primícias para Deus e para o Cordeiro; ⁵ e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula.” Apocalipse 14:4,5 NAA
Os 144.000 nos grupos de crentes que chegam ao céu
Antes de qualquer análise específica sobre os 144.000, é preciso entender o contexto do livro de Apocalipse, que conta a história do fim dos tempos usando símbolos e figuras. Nesse livro, vemos diversos grupos se apresentando diante do trono de Deus — seja por morte, seja por arrebatamento. O grupo dos 144.000 é um desses grupos.
Neste site, temos dois artigos que entram em maiores detalhes sobre os diversos grupos que chegam ao céu, que indicamos ao final desta postagem. Em síntese, esses grupos são:
- O grupo dos ‘24 anciãos’ descritos em Apocalipse 4 e 5, que é composto por dois subgrupos, ambos formados por crentes que deram bom testemunho e que foram fiéis, e por isso não perderam o seu status de ‘primogênitos’, e que serão reis e sacerdotes juntamente com Cristo: (i) um grupo que já está no céu, formado por pessoas que já haviam falecido ao longo dos séculos (retratado em Apocalipse 4); (ii) um outro grupo de crentes que estavam vivos, na Terra, e que foram arrebatados, como parte do ‘filho varão’ de Apocalipse 12 (esse grupo é retratado em Apocalipse 5). O número 24 é simbólico. Haverá milhares e milhares de pessoas dignas de estarem no grupo dos ‘24 anciãos’.
- Os mártires da ‘Prostituta’ ou ‘mártires do 5º Selo’, que também é composto por dois subgrupos: (i) crentes gentios que se aceitaram a Cristo depois do 1º arrebatamento e, também, por (ii) pessoas que já eram crentes antes do 1º arrebatamento mas que, pela vida que levavam, pecando de maneira consciente e voluntária, sem arrependimento, não foram consideradas dignas/prontas e foram deixadas para trás (porém, muitas delas se arrependerão durante o período da tribulação. Não confundir o termo ‘ser deixado para trás’ com “perda da salvação”). Essas pessoas serão perseguidas pelo sistema da ‘Prostituta’ (poderes mundiais constituídos) e pelos ‘habitantes da Terra’ (termo que, em nosso entendimento, não significa os seres humanos descrentes em geral, mas um grupo muito específico, formado por seres híbridos, que não são descendentes de Adão e que estão na Terra, cujos nomes nunca foram escritos no Livro da Vida), que irão perseguir os cristãos a partir de determinado momento após o 1º arrebatamento, na altura do 5º Selo de Apocalipse. Em Apocalipse, é mencionado que esses mártires vão chegando continuamente ao céu, na perseguição e expurgo que acontecerão durante um período de 10 dias, na Terra, o que representa a “grande tribulação” para os cristãos (não confundir com a “grande tribulação” que ocorre após a coroação da Besta, que é outra “grande tribulação”). Observe que até esse momento, a perseguição terá sido empreendida pela ‘Prostituta’ os ‘habitantes da Terra’ e não pela Besta/Anticristo, que nem terá iniciado o seu reino ainda.
- Os 144.000 de Israel: grupo formado por descendentes de israelitas, com 12.000 de cada uma das 12 tribos de Israel, que, em sua maior parte, chega ao céu logo antes do início do reino da Besta, mediante um arrebatamento só para eles (o 2º arrebatamento). O número total de 144.000 também é simbólico, conforme falaremos adiante.
- Os que venceram a ‘Besta’ (os ‘vencedores’ / ‘vitoriosos’): grupo formado por crentes que não morreram durante a perseguição que ocorreu na altura do 5º Selo, que conseguiram sobreviver a duras penas mesmo após o início do reino da Besta/Anticristo sem aceitarem a marca da Besta nem adorar a sua imagem, e que chegam ao céu mediante um 3º e último arrebatamento, instantes antes do início do Dia do Senhor, em que a ira de Deus é derramada sobre a Terra.
- Os mártires da Besta: grupo formado por todos os crentes que morreram durante o reinado da Besta, ou seja, foram vítimas do Anticristo. Essas pessoas só são ressuscitadas no momento da 7ª Trombeta, na altura da 2ª Vinda de Cristo.
Analisando todos esses grupos, vemos claramente que a chegada dos crentes, ao céu, antes da 2ª Vinda, não acontece de uma única vez, mas em diferentes etapas. Isso comprova que os 144.000 de Israel não são, de maneira alguma, os únicos salvos que irão para o céu. Essa interpretação, de determinadas seitas, não tem o mínimo fundamento, porque todos os outros grupos de crentes também têm lugar no céu e são parte do Corpo de Cristo. Os 144k também não são um grupo de crentes de hoje. Os judeus que hoje são crentes (comumente chamados de ‘judeus messiânicos’) são parte da Igreja atual, não importando se são gentios ou judeus. O grupo dos 144.000 de Israel, mencionado em Apocalipse, será um grupo de descendentes das 12 tribos de Israel (alguns deles sequer sabem que são israelitas, já que várias das 12 tribos se dispersaram) que se converterá a Cristo e receberá o Espírito Santo poucos dias antes da saída de grande parte dos crentes atuais da Terra, simbolizados pelo arrebatamento do ‘filho varão’ de Apocalipse 12:5, que é o primeiro grupo a ser arrebatado e que se apresenta diante do trono de Deus como os ’24 anciãos’ de Apocalipse 5.
Segundo o livro de Apocalipse, somente três grupos são considerados dignos do direito de ‘primogenitura’, ou seja, que receberão a porção dobrada da herança, que significa atuarem como reis e como sacerdotes. Isso significa que, quando estiverem no céu, atuarão como sacerdotes, e quando estiveram na Terra, serão reis, em diferentes esferas de autoridade, auxiliando a Cristo em Seu Reino Milenar. Esses três grupos são: os 24 anciãos, os 144.000 e os mártires da Besta.
Todos os outros grupos acima também terão salvação eterna, mas nem todos receberão posições de autoridade para governar na Terra, o que é exclusivo daqueles que são mencionados como sendo reis. Todos os crentes, porém, serão julgados no dia do Tribunal de Cristo e receberão galardões conforme as suas obras.
A identidade dos 144.000
Feita essa introdução, vamos procurar entender o que dizem os versos 4 e 5 de Apocalipse 14.
Nesta breve passagem, Deus forneceu uma série de pistas que conectam os 144.000 de Israel às 7 igrejas (assembleias) mencionadas nas Cartas às 7 Igrejas. Deus, deliberada e intencionalmente, fez uso de palavras-chave e frases para guiar o leitor em sua compreensão deste grupo de crentes do tempo do fim: o seu caráter, destino etc. As pistas mais significativas são encontradas nas palavras: primícias, redimidos, sem mentira/ engano, irrepreensíveis, não contaminados com ‘mulheres‘.
Não se macularam com mulheres
Há várias escolas de pensamento sobre como interpretar essa passagem. Muitos, se não a maioria, acreditam que os 144k serão homens solteiros, sexualmente virgens, que evangelizarão o mundo durante o fim dos tempos.
Em primeiro lugar, o verso 4 não diz que todos serão pessoas do sexo masculino. No trecho “são os que foram redimidos dentre os homens”, o termo que aparece no grego para ‘homens’ é “ἄνθρωπος” cuja transliteração é anthrōpos, que significa “humanidade”, ou “seres humanos”.
A menção sobre serem sexualmente virgens é simbólica. Ao lermos Apocalipse, não podemos perder de vista o simbolismo do livro. Com exceção dos intervalos de tempo informados (todos literais), Apocailpse contém muitos símbolos, que não podem ser interpretados literalmente.
A palavra para uma mulher virgem é usada: ‘parthénos‘. A palavra ‘virgens’ é, na verdade, uma referência a mulheres jovens — e não a homens.
Palavra #3933 da concordância Strong: parthénos. Significado: uma virgem; uma mulher que nunca teve relações sexuais; uma mulher (virgem) além da puberdade, mas ainda não casada; (figurativamente) crentes quando são puros (castos), ou seja, fiéis a Cristo, o seu noivo celestial (2 Coríntios 11:2; Apocalipse 14:4).
Pela forma que o texto está redigido, embora os 144k possam ser todos do sexo masculino, é perfeitamente possível, sem contradição com o verso 4, que seja um grupo formado pessoas de ambos os sexos. Se os 144k serão todos homens do sexo masculino, é bastante possível e provável, mas não por causa do verso 4, e sim pelo fato de o ministério deles ser apostólico.
O que significa que eles não se macularam com mulheres? A que “mulheres” se refere esta passagem? Será que Apocalipse faz referência a alguma mulher com o potencial de macular/ contaminar um crente? A resposta para isso é bastante simples: sim, há várias ‘mulheres’ que têm o potencial de desviar o povo de Deus dos trilhos. Elas são:
- A Prostituta (‘Mistério Babilônia’)
- As ‘filhas’ da Prostituta
- ‘Jezebel’
- Qualquer pessoa associada ao sistema da Prostituta
Portanto, por essa passagem, podemos supor que o grupo identificado como os ‘144k’ será composto por descendentes das 12 tribos de Israel; que não se deixaram corromper pelo sistema da Prostituta nem por falsas doutrinas influenciadas pela Prostituta/ Mistério Babilônia. Isto é o mais importante. Não significa que nunca tiveram relações sexuais nem que necessariamente sejam todos homens.
Não se achou engano / mentira em suas bocas
Existem outras ‘mentiras’ encontradas no Apocalipse? Sim. Vejamos:
“Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei.” Apocalipse 3:9
Haverá pessoas, que se dizem judeus, que rejeitarão a mensagem dos 144k, mas que não são judeus, por um dos seguintes motivos:
- não são descendentes de Jacó e praticam um judaísmo doutrinariamente corrompido pelas tradições herdadas dos escribas e fariseus e outras heresias acrescentadas ao longo dos séculos;
- mesmo que sejam fisicamente descendentes de Jacó, rejeitarão o verdadeiro ‘judaísmo’ dos 144k que serão crentes no verdadeiro Messias de Israel: Jesus.
Em Mateus 15:3, 6 e 9, Jesus critica duramente os escribas e fariseus, por terem inserido, na doutrina judaica, ensinamentos que ampliavam e interpretavam incorretamente o que estava no Pentateuco (a Torá), e que por isso deturpavam a Palavra de Deus. Jesus disse que eles ensinavam doutrinas que eram “preceitos de homens”, como havia sido profetizado por Isaías.
Sabemos que, de acordo com Deus, ser um verdadeiro judeu significa abraçar o mesmo tipo de fé que pertenceu a Abraão: “(…) Porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas, nem por serem descendentes de Abraão são todos filhos. Pelo contrário: ‘Por meio de Isaque será chamada a sua descendência.’ Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são contados como descendência.” Romanos 9:6b-8
Os 144k de Israel confiarão em Jesus e o proclamarão como o seu Messias (o ‘Ungido’, o ‘Cristo’). Eles O confessarão apesar da perseguição e das dificuldades, e serão rejeitados por muitos que se dizem judeus. Ao contrário dos da “sinagoga de Satanás”, ‘não haverá engano / mentira’ em suas bocas.
Assim como ocorreu no 1º Século, o fato de os 144k crerem em Jesus como o Messias de Israel provocará grandes desavenças nas famílias judias. Em Lucas 12:51-53, Jesus advertiu sobre isso.
Uma das tarefas das Duas Testemunhas — e uma delas é Elias — será exatamente essa: a de “converter o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos aos pais” (Malaquias 4:5,6), trazendo as pessoas de volta ao entendimento da Palavra de Deus e reconciliando gerações em relação à aceitação de Jesus como o verdadeiro Messias de Israel.
São irrepreensíveis diante do trono de Deus
Ser ‘irrepreensível’ não significa que essas pessoas nunca pecaram. Ser irrepreensível, nesse caso, tem relação com os mandamentos de Deus descritos em Apocalipse. Os 144k de Israel obedecerão aos mandamentos dados a eles conforme enumerados nas cartas às 7 igrejas e serão pessoas moralmente dignas.
Os ‘mandamentos’ de Apocalipse são os comandos específicos que Deus dará a cada grupo de crentes durante os últimos dias. No caso dos 144k, o mandamento de Deus para eles é não permitir a influência da ‘Prostituta’ em sua fé nem em suas assembleias. Eles não podem se deixar influenciar por heresias.
Assim que a Prostituta for destruída na 6ª Trombeta, 3 anjos entregarão diferentes ‘mandamentos’. Aqueles que estiverem vivos durante o reinado de 42 meses da Besta precisarão seguir o novo conjunto de mandamentos, incluindo: adorar somente a Deus, não receber a marca da Besta, não adorar a Besta ou sua imagem, nem receber o número de seu nome. Embora alguns cristãos hoje acreditem que os ‘mandamentos’ em Apocalipse se referem aos “Dez Mandamentos”, não há indicação de que os ‘mandamentos de Deus’ se refiram a nada além dos mandamentos específicos dados aos seus santos no fim dos tempos.
Isto é o que sabemos até agora: os 144.000 de Israel serão um grupo de crentes descendentes das 12 tribos de Israel. O termo ‘virgem’, que não se contaminaram com ‘mulheres’, é simbólico. Eles podem ser casados ou já terem tido experiência sexual. O que está sendo dito no verso 4 de Apocalipse 14, metaforicamente, é que esse grupo não professará doutrinas heréticas promovidas pela Prostituta.
Os 144.000 e o ‘remanescente de Israel’
Um erro muito comum de cristãos é confundirem o grupo dos 144k com o grupo do ‘remanescente de Israel’. É importante esclarecer que esses dois grupos, embora formados por israelitas, são totalmente distintos:
- os 144.000 serão crentes judeus recém-convertidos, que assumirão um ministério apostólico, após serem selados e empoderados pelo Espírito Santo. Após o término de seu ministério e a sua partida da Terra, eles receberão corpos ressuscitados e glorificados e serão parte da Noiva de Cristo e parte da Nova Jerusalém.
- já o ‘remanescente de Israel’ é um grupo de judeus, religiosos ou não, que nunca aceitaram a Jesus como o Messias, os quais, no dia da Abominação Desoladora, perceberão a enganação do Anticristo e imediatamente fugirão de Jerusalém através de uma passagem aberta por um terremoto, no Monte das Oliveiras. O próprio Cristo, incógnito, conduzirá o ‘remanescente de Israel’ (a ‘mulher’ de Apocalipse 12) para o deserto, e alimentará e protegerá esse grupo. Assim que eles completarem a passagem, haverá outro terremoto e o monte se fechará sobre o exército do Anticristo, matando a todos esses perseguidores, da mesma forma que aconteceu na travessia do Mar Vermelho, no êxodo do Egito, quando o exército de Faraó morreu afogado quando as águas se fecharam. Os integrantes do ‘remanescente de Israel’ serão milagrosamente preservados durante 1260 dias, até a 2ª Vinda de Cristo, e habitarão o Reino Milenar, em seus corpos naturais e mortais. Portanto os 144k e o ‘remanescente de Israel’ não são, de forma alguma, o mesmo grupo.
Redenção, Primícias e a Primogenitura
Os 144.000 são mencionados como “redimidos” e como “primícias”. ‘Redenção’ é um termo que se refere à prática hebraica de redimir o filho primogênito. A redenção do filho primogênito e a oferta das primícias são dois conceitos relacionados que eram muito familiares aos judeus. Na verdade, esses costumes eram um aspecto integral da vida em Israel. Como símbolos, eles significam o relacionamento único dos crentes com Deus, na qualidade de filhos. Também estão incluídas as promessas da porção dobrada da parte da herança do primogênito. Esses dois conceitos — a redenção do primogênito e a oferta das primícias — descreve, simbolicamente, as promessas dadas a todos os crentes. Por isso, cabe a nós procurarmos o significado mais profundo contido nesses costumes antigos. Temos um artigo que explica aspectos muito importantes sobre esse tema, neste link: Primogênito e Primícias. Recomendamos a sua leitura, para melhor compreensão sobre esses conceitos. Se essas explicações fossem incluídas aqui, este artigo ficaria muito longo.
Os 144.000 também herdarão as promessas da primogenitura e da porção dobrada. Como todos os filhos fiéis de Deus, eles também serão sacerdotes de Deus e governarão e reinarão com Cristo como reis durante o Milênio. Se forem fiéis e vencerem, receberão tudo o que Deus lhes prometeu. Eles farão parte da Noiva de Cristo, conforme indicado pelos nomes das 12 Tribos que estão sobre os 12 portões da Cidade Santa, a Nova Jerusalém.
Um número simbólico: 144.000 = 12.000 de cada uma das 12 tribos
O número 12 representa, simbolicamente, o “governo divino” e “aquele que é escolhido”. Cristo, junto com os 12 apóstolos, governará as 12 tribos de Israel durante o Milênio. O número ‘1000’ representa a plenitude de algo. Portanto, 12.000 X 12 = a plenitude do povo escolhido de Deus e o governo divino na Terra.
O número ‘144.000’, como muitos dos números encontrados em Apocalipse, não deve ser interpretado literalmente, como se estivesse se referindo a 144.000 crentes judeus homens e em contagem literal. Em vez disso, devemos entender que o complemento total de crentes judeus de todas as 12 tribos constituirá esse último grupo de discípulos apostólicos. O número real pode ser muito maior que 144.000. Literal ou não, o mais importante é que esse número representa a plenitude dos descendentes de Abraão, por meio de Isaque e de Jacó, que herdarão as promessas. Como os primeiros 12 apóstolos, esse grupo também terá função apostólica. Também é importante lembrar que, durante o seu ministério, as Duas Testemunhas de Apocalipse estarão na Terra.
As fases das colheitas de crentes
No Antigo Testamento, vemos que as colheitas eram divididas em por três fases:
- as colheitas das primícias (os primeiros frutos a amadurecerem), que deveriam ser ofertadas a Deus;
- a colheita principal; e
- a coleta das sobras que caíam no chão durante a colheita principal, que deveriam ser deixadas ali para os pobres, viúvas, estrangeiros e necessitados em geral.
As Festas do Senhor (em hebraico, algo pronunciado “moedim”, que, literalmente, significa encontros marcados de Deus com o Seu povo) são descritas no Antigo Testamento (em Levítico 23: 2; 4, Números 15: 3 e outras passagens). Expressam um dia ou um período de celebração religiosa em que Deus convoca o Seu povo. Algumas destas festas estão relacionadas a colheitas, sendo que três delas são consideradas “festas de peregrinação”, uma vez que Deus determinava que o povo de Israel “aparecesse diante d’Ele”, indo ao Templo, em Jerusalém. Estas três festas de peregrinação são a Páscoa (Pessach), Pentecostes (Shavuot) e Tabernáculos (Sucot), todas elas relacionadas às ofertas das primícias das respectivas colheitas:
- no dia das Primícias (16º dia do 1º mês hebreu [Nisan], durante a semana da Páscoa), a oferta das primícias da plantação da cevada.
- no dia de Pentecostes (várias semanas após a Páscoa, atualmente comemorada no 6º dia do 3º mês hebreu [Sivan]), a oferta das primícias da plantação do trigo.
- na Festa de Tabernáculos (comemorada do 15º ao 21º dia do mês hebreu de Tishri), a oferta do término de todas as colheitas do ano, que incluída as azeitonas e todas as frutas.
Em cada uma dessas plantações, o grupo das primícias está sempre relacionado a uma relevante ação do Espírito Santo, de uma maneira diferenciada.
Na Festa das Primícias (oferta das primícias da cevada), Cristo foi as primícias da cevada. Ele ressuscitou e se apresentou ao Pai exatamente nesse dia, quando Ele também levou todos os crentes mortos que estavam no Hades para o céu (a colheita principal da cevada). Este foi o grupo simbólico da colheita principal da ‘cevada’. No mesmo dia, mais tarde, Jesus voltou e soprou uma 1ª porção do Espírito Santo sobre os apóstolos, e eles foram selados no Espírito.
Na Festa de Pentecostes (oferta das primícias do trigo), Jesus, à direita do Pai, no céu, dedicou a Ele os apóstolos que Ele havia treinado, a quem o “bastão” do ministério cristão (no sentido de liderança e responsabilidade) estava sendo passado, após a partida de Jesus para o céu. Deus Pai aceitou a oferta e autenticou isso fazendo descer um forte vento e línguas em forma de fogo, sobre as cabeças do grupo dos apóstolos e outros discípulos que estavam reunidos em Jerusalém. Esta foi a 2ª porção recebida pelos apóstolos (lembre-se que todos os ‘primogênitos’ recebem porção dobrada). Este foi o grupo simbólico das primícias da plantação do trigo.
A colheita principal do trigo é composta por todos os crentes desde o Pentecostes até os crentes que estarão vivos no dia que a trombeta for tocada e os seus corpos desses crentes forem transformados, de mortal para imortal (1 Coríntios 15:35-58), os quais, uma semana depois, serão levados ao céu no 1º arrebatamento. Ao longo dos últimos 20 séculos, bilhões de crentes, ao morrerem, cada um a seu tempo, foram chegando, gradualmente, ao céu, o que também é parte dessa colheita principal do trigo. No dia do 1º arrebatamento, o último grupo da colheita principal do trigo, dentre os que estiverem vivos na Terra, chegará ao céu. Este é o arrebatamento do ‘filho varão’ de Apocalipse 12:5, que chega ao céu e se apresenta como parte dos ’24 anciãos’.
E a plantação das azeitonas, o que significa, simbolicamente? As azeitonas parecem simbolizar os 144k de Israel. Após a saída da colheita principal do trigo, da Terra, mediante um arrebatamento (o ‘filho varão’, parte dos ’24 anciãos’), o ‘bastão’ do ministério cristão será passado ao novo grupo apostólico: os 144.000 de Israel. A passagem desse ministério pode estar conectada ou não à Festa de Tabernáculos.
“Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro [espécie de oliveira brava ou selvagem] e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!” Romanos 11:24
Os crentes gentios dos últimos 20 séculos são comprados a galhos de zambujeiro que foram enxertados na boa oliveira, contra a natureza, pela vontade soberana de Deus. Os 144.000 israelitas são galhos naturais da oliveira, e serão enxertados na sua própria oliveira! Quem fará o enxerto será Deus, sobrenaturalmente!
Conclusão
Os 144.000 serão descendentes das tribos de Israel que aceitarem a fé em Cristo durante os últimos dias. Esse grupo será selado com o Espírito Santo e serão os novos apóstolos de Cristo, com um imenso mover do Espírito Santo. No nosso entendimento, pelo fato de Apocalipse ser simbólico, eles não serão virgens no sentido literal da palavra. A expressão “não maculados com mulheres” é simbólica e significa que os 144k não serão aderentes a doutrinas pagãs.
Os 144.000 deverão se manter puros em seu amor e devoção a Cristo, evitando a influência da ‘Prostituta’ e de qualquer sistema de crenças que envolva falsas doutrinas. Se guardarem os ‘mandamentos de Deus conforme enumerados nas cartas às 7 igrejas, eles serão removidos da Terra antes da ‘hora da provação’ — levados pelo Cordeiro em seu próprio arrebatamento antes da 6ª Trombeta, que será a destruição da ‘Prostituta’. A maioria dos 144.000 não estará na Terra a partir do início do reinado da Besta.
Os 144.000 serão crentes israelitas recém-convertidos, que assumirão um ministério apostólico, empoderados pelo Espírito Santo. Esse grupo não pode ser confundido com o ‘remanescente de Israel’, que é formado por judeus descrentes, que fugirão de Jerusalém protegidos pelo próprio Cristo, de maneira anônima, em um segundo Êxodo. Os integrantes do ‘remanescente de Israel’ habitarão o Milênio em seus corpos naturais. Os 144.000 serão parte do Corpo de Cristo e receberão corpos ressuscitados e glorificados. São grupos diferentes.
Assim como esse grupo não pode ser confundido com o ‘remanescente de Israel’, esse grupo também não pode ser confundido com os crentes do tempo hoje que porventura sejam descendentes de israelitas (“cristãos messiânicos”), e que são igualmente parte da colheita principal do ‘trigo’, parte da Igreja.
Após terminarem o seu ministério durante o difícil período da grande tribulação para os cristãos (que ocorre antes do início do reinado da Besta) e partirem da Terra, os 144.000, da mesma forma que os ’24 anciãos’, também receberão status de reis e sacerdotes, recebendo a porção dobrada dos primogênitos.
Diferentemente de muitos crentes da colheita do ‘trigo’, que deram testemunho cristão por décadas de suas vidas, o ministério dos 144.000 terá duração de poucos meses. O curto tempo do ministério deles não prejudicará os seus galardões, nem de nenhum crente de qualquer época que tenha se convertido a Cristo pouco tempo antes da própria partida desta vida, e que tenha se dedicado fielmente a Deus. Isto é ilustrado em Mateus 20:1-16, na parábola dos ‘Trabalhadores da Vinha’.