O significado de mordomo e mordomia
O conceito de mordomia aparece na Bíblia em várias ocasiões. Antes de falarmos de Cristo como o Fiel Mordomo de Deus, convém explicar o que significa mordomo e mordomia. Nos dias de hoje, estas são palavras usadas com conotações diferentes, especialmente na língua portuguesa e no Brasil.
Hoje, na indústria da hospitalidade de alto padrão, existe a posição de mordomo, que é um funcionário contratado do hotel ou do cruzeiro, que atua como um assistente pessoal de hóspedes de acomodações de categoria premium, para que não precisem se preocupar com nada e possam melhor desfrutar a sua estada. Em geral, um mordomo, que geralmente tem boa formação e precisa falar mais de um idioma, supervisiona e personaliza a experiência de hóspedes, cuidando de providências tais como recepcionar e apresentar o local, arrumar e desfazer malas, servir café e bebidas, ajudar em assuntos secretariais e resolver diversos problemas, procurando se antecipar às necessidades do hóspede.
Já o conceito de mordomia, especialmente no Brasil, atualmente, tem outro significado, relacionado a vantagens que determinados servidores públicos desfrutam, recebendo refeições, viagens, moradia e serviços pagos pelo governo, além de seus próprios altos salários e outros benefícios. Não é incomum a expressão “fulano vive na maior mordomia”, no sentido de que desfruta de uma vida de luxo, com tudo pago pelo governo.
Em razão do significado ou conotação das palavras ‘mordomo’ e ‘mordomia’ atuais, quando lemos a Bíblia e encontramos essas palavras, podemos não entender exatamente o que está sendo dito, porque não faz parte do contexto da maioria das pessoas. A palavra mordomia, na Bíblia, não tem nada de pejorativo.
A origem da palavra ‘mordomo’ é o termo latim ‘major domus‘, que significa ‘o superior da casa’. Esse termo, por sua vez, é uma abreviatura da designação completa do cargo “quasi magister palatii seu major domus regiæ” (“por assim dizer, mestre do palácio ou maior da casa do rei”).
No passado e até hoje, em países com monarquia, o mordomo era o administrador-chefe do palácio ou da casa, o empregado mais qualificado, em cargo de alta confiança, responsável por govenar toda a residência do nobre (ou do rei) e garantir o seu funcionamento eficiente. Isso incluía a gestão da equipe de empregados, a administração financeira, as compras de mantimentos e de serviços que viessem a ser necessários, a organização de eventos sociais da casa e a prestação de contas ao proprietário do local. A função de mordomo não era a de um assistente pessoal qualificado como hoje ocorre na hotelaria, muito menos uma semelhante a ‘garçom’ ou ‘comissário de bordo’, mas de principal executivo (‘CEO’) do palácio ou da casa, uma espécie até de ‘primeiro ministro’ de alguém com grande patrimônio e visibilidade. A propósito, na origem da palavra, um ‘ministro’ é um indívuo que serve outra pessoa.
Vemos, portanto, que mordomo significa ‘administrador-chefe’, e mordomia significa o conjunto de responsabilidades de quem recebeu a posição de mordomo. É assim que devemos interpretar essas palavras, quando lemos a Bíblia. A interpretação equivocada costuma ser tão comum que algumas traduções da Bíblia adotam a palavra “administrador”, no lugar de mordomo. Em inglês, a tradução é “steward“, que significa ‘comissário’, ou seja, aquele que recebe a comissão ou incumbência de realizar algo.
Na série Downton Abbey, da Netflix, o personagem Charles Carson aparece como o mordomo da propriedade, um empregado altamente capacitado que se reporta diretamente ao patriarca da família, o Conde de Grantham, Robert Crawley. No enredo da série, o mordomo Carson cuida de toda a administração da mansão e todos os empregados se reportam e ele. Ele é leal, tem autoridade, age como um executivo-chefe e ‘procurador’ do conde, é respeitado e goza da mais alta confiança por parte de toda a família.
Exemplos nos tempos antigos, na Bíblia
Adão e Eva
Embora a palavra “mordomia” não seja usada, o conceito está presente. Gênesis 1:26-28 diz que Deus incumbiu a Adão e Eva de terem descendentes, cuidarem do jardim e terem domínio sobre todos os animais da Terra. Em Salmos 8:3-9, lemos que “Deus coroou o homem com glória e honra”, e que lhe deu “domínio sobre as obras da Sua mão e as colocou a seus pés”, para que delas cuidasse.
Noé
Noé recebeu a mordomia de construir a arca e resgatar a sua família e os animais do Grande Dilúvio.
Eliézer
No capítulo 15 de Gênesis, lemos que Eliézer era o mordomo de Abraão:
“Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão. Então disse Abrão: Senhor Deus, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer?” Gênesis 15:1,2
Em Gênesis 24, lemos: “E era Abraão já velho e adiantado em idade, e o Senhor havia abençoado a Abraão em tudo. E disse Abraão ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía (…)” Gênesis 24:1,2a
Eliézer era o empregado com maior senioridade e experiência da casa, que estava encarregado de tudo o que Abraão tinha. A confiança de Abraão era tanta que, bem mais tarde, também lhe delegou a missão de procurar uma noiva para o seu filho Isaque.
José
José, um dos filhos de Jacó, foi comprado por Potifar e assumiu a posição de administrador de toda a sua casa. A passagem de Gênesis 39:1-6 ilustra bem o conceito de mordomia:
“José foi levado ao Egito, e Potifar, oficial de Faraó, comandante da guarda, egípcio, comprou-o dos ismaelitas que o tinham levado para lá. O Senhor era com José, que veio a ser homem próspero; e estava na casa de seu senhor egípcio. Vendo Potifar que o Senhor era com ele e que tudo o que ele fazia o Senhor prosperava em suas mãos, logrou José mercê perante ele, a quem servia; e ele o pôs por mordomo de sua casa e lhe passou às mãos tudo o que tinha. E, desde que o fizera mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha, o Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José; a bênção do Senhor estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no campo. Potifar tudo o que tinha confiou às mãos de José, de maneira que, tendo-o por mordomo, de nada sabia, além do pão com que se alimentava.” Gênesis 39:1-6
Mais tarde, em Gênesis 41:37-46, lemos que Faraó nomeou José governador de todo o Egito, em uma posição de vice-rei, o que também implica mordomia.
Moisés
No livro de Êxodo, observamos que Moisés foi um mordomo fiel, que ficou responsável pela liderança do povo de Israel, conduzindo-os na fuga do Egito, no deserto, em direção à terra de Canaã. Apesar de a palavra ‘mordomo’ ou ‘mordomia’ não aparecer no relato, Moisés recebeu autoridade de Deus e tinha imensa responsabilidade em sua missão.
Sebna
Em Isaías 22.15-16, encontramos o mordomo Sebna, que não era um membro da família real e provavelmente era um estrangeiro ou gentio. Ele se esforça para ser lembrado entre os reis após sua morte. Sebna é ambicioso e politicamente habilidoso, e usa a sua posição para a sua própria autopromoção. Ele age de maneira que envergonha o rei Ezequias e depois perde a sua posição como mordomo e ministro das Finanças, sendo rebaixado para o posto de escrivão.
Eliaquim
Nos livros de 2 Reis capítulos 18 e 19 e Isaías capítulos 22, 36 e 37, vemos Eliaquim, que sucedeu o mordomo infiel Sebna e governava o palácio e as finanças do rei Ezequias. Eliaquim era um homem de excelente caráter, que age de maneira digna e recebe a total confiança do rei e da sua própria família. O Senhor promete lhe dar uma túnica, um cinto e uma chave, ambos são símbolos de sua autoridade. A túnica aponta para autoridade profética; os profetas comumente usavam uma túnica, que os identificava entre a multidão. O cinto aponta para o ofício sacerdotal e a chave representa a autoridade de rei.
José e Maria
Maria e seu esposo José foram fiéis mordomos na missão que receberam de criar, cuidar e educar do Salvador, Jesus. Eles deram bom exemplo e educaram o menino Jesus com amor, em obediência e nos ensinamentos da Torá. Todos os pais e mães e educadores recebem uma mordomia por parte de Deus, que envolve grande responsabilidade e esforço.
O mordomo infiel do Novo Testamento
No Novo Testamento, em Lucas 16:1-11, a mordomia também aparece na passagem sobre o mordomo infiel. É claramente retratado que administrava todos os bens de seu patrão.
Paulo
O apóstolo Paulo recebeu a mordomia de levar o Evangelho para os povos gentios, e cumpriu a sua missão com louvor. Paulo foi o maior missionário da Igreja Cristã em suas primeiras décadas, estando diretamente envolvido na expansão do Evangelho por todo o mundo greco-romano.
Certamente, na Bíblia, há muitas outras pessoas que receberam missões e responsabilidades muito importantes, e que as desempenharam com fidelidade. Na lista acima, vários profetas não foram mencionados mas foram igualmente mordomos valorosos de Deus. Todos os escritores dos livros da Bíblia receberam revelações do Espírito Santo e a mordomia de nos proporcionar as Escrituras Sagradas.
Por fim, temos o Senhor Jesus, como o fiel mordomo de Deus, como veremos a seguir.
Cristo como o Fiel Mordomo de Deus
Tanto no Evangelho de João quanto no livro de Apocalipse — escritos por João —, Jesus é representado como o Cordeiro de Deus. Além de outros pontos em comum, há, ainda, outra forte correlação entre esses dois livros: Jesus, o Cordeiro de Deus, também é apresentado como o ‘Mordomo Fiel’ (ou ‘Fiel Administrador’) de Deus. Jesus é Aquele a quem Deus confiou a responsabilidade de treinar e preparar cada grupo de discípulos — tanto os apóstolos do primeiro século quanto os apóstolos que virão nos últimos dias, que serão os 144.000 de Israel.
Na noite anterior à crucificação de Jesus, Ele compartilhou algumas instruções finais com seus discípulos, no cenáculo. Depois de compartilhar a refeição da Páscoa com Seus discípulos, João registra o que muitos chamam de ‘oração sacerdotal’ de Jesus, em João 17. Enquanto muitos veem Jesus em Seu papel como nosso fiel Sumo Sacerdote nesta passagem em João, há outra analogia ainda mais precisa: Jesus como o Mordomo de Deus.
No final de um período de gestão, os mordomos deveriam prestar contas de como lidaram com as responsabilidades que lhes foram confiadas, e Jesus não foi exceção. Na noite em que foi traído, quando Sua vida terrena estava chegando ao fim, Jesus fez um relato ao Pai sobre a mordomia que Lhe havia sido dada, relacionada aos 12 discípulos. Na oração registrada em João 17, a intenção de Jesus não era interceder pelos discípulos como faria um sacerdote (muitos chamam essa passagem de ‘oração sacerdotal’). O que Ele estava fazendo, na realidade, era uma prestação de contas e um relato da mordomia que havia recebido — especialmente no que dizia respeito ao preparo dos 12 homens e Ele confiados, por Deus.
Nessa oração, Jesus disse ao Pai que havia cumprido os deveres de um mordomo fiel; que Ele havia dado as palavras de Deus aos discípulos e que todos os discípulos haviam crido que Ele havia sido enviado por Deus. Ele não perdeu nenhum dos doze, exceto Judas, para que a Palavra de Deus fosse cumprida. Jesus então pediu que Deus protegesse e cuidasse dos discípulos a quem amava, e que eles fossem ‘enviados’, assim como o próprio Jesus havia sido enviado por Deus ao mundo. Ele pediu que eles fossem um e que, finalmente, O veriam em Sua glória celestial no lugar que Ele lhes prepararia.
Nas passagens registradas nos capítulos 13 a 16 de João, uma seção das escrituras também conhecida como o “Sermão do Cenáculo”, Jesus deu instruções e mandamentos finais a Seus discípulos, antes de ser crucificado. O mandamento mais importante que Ele lhes deu foi um ‘novo mandamento’: eles deveriam se amar como Ele os havia amado.
O Evangelho de João nos deixou um registro do relato de Cristo, a Seu Pai, sobre como Ele lidou com a mordomia que Lhe havia sido confiada por Deus. O que esse relato nos diz é que um dos papéis de Cristo durante Seu ministério terrestre foi o de Mordomo da casa de Deus.
O livro de Apocalipse também faz referência a Cristo como o Fiel Mordomo de Deus. Nos capítulos 1 a 3, vemos Jesus representado, simbolicamente, como Eliaquim, que foi o mordomo real do rei Ezequias. Como já vimos, nos tempos antigos, o mordomo real tinha a mesma autoridade que o rei em assuntos relativos à casa do rei. Eliaquim substituiu Sebna, que foi um mordomo infiel. Em Isaías 22, Eliaquim está vestido com o manto e a faixa de Sebna, e recebeu as chaves da casa de Davi:
“Naquele dia, chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias, vesti-lo-ei da tua túnica, cingi-lo-ei com a tua faixa e lhe entregarei nas mãos o teu poder, e ele será como pai para os moradores de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém fechará, fechará, e ninguém abrirá. Fincá-lo-ei como estaca em lugar firme, e ele será como um trono de honra para a casa de seu pai.” Isaías 22:20-23
Em Apocalipse 1, Jesus aparece vestido com uma túnica com um cinto de ouro:
“E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro.” Apocalipse 1:12,13
Podemos ler essa descrição de Cristo andando no meio dos castiçais sem entender completamente as implicações da descrição dada nesta passagem. É fácil pensar que o que lemos sobre Cristo no capítulo 1 é apenas uma descrição de Cristo em Sua glória, e que essa descrição contém todo o simbolismo necessário para conhecer a identidade do Indivíduo que está diante de João. O que não sabemos, no entanto, é que a descrição de Cristo no capítulo 1, na realidade, continua nos capítulos 2 e 3, nas cartas às 7 igrejas, com mais detalhes importantes acrescentados. Cada uma das 7 cartas acrescenta outro aspecto da pessoa de Cristo, além do que é dito sobre Ele no capítulo 1. Algumas das descrições de Cristo dadas nas cartas às 7 igrejas compartilham características com a descrição de Cristo no capítulo 1. Os pontos em comum são:
- a presença de Cristo no meio dos candelabros de ouro;
- pés como bronze;
- voz como muitas águas;
- as sete ‘estrelas’ em Suas mãos;
- a espada da Sua boca.
Nas cartas às 7 igrejas, há características simbólicas adicionais, que descrevem a Cristo, que não estão listadas no primeiro capítulo, características que precisam ser conhecidas antes de tirarmos alguma conclusão sobre exatamente quem João viu diante de si no primeiro capítulo, e qual seria o papel do fim dos tempos dessa Pessoa gloriosa.
Cristo é sempre representado de maneira simbólica, em Apocalipse. As descrições dadas nos capítulos 1 a 3 foram destinadas a nos remeter à passagem em Isaías sobre Eliaquim, o mordomo do rei. Nosso objetivo era ver o relacionamento de Cristo com os 144.000 como o mordomo e treinador/ preparador dos futuros apóstolos das primícias de Deus. É apenas nos capítulos 2 e 3 que a descrição de Cristo — que começou no capítulo 1 — é concluída, e somente em Apocalipse 3:7 — onde é dito que Cristo tem a Chave de Davi — que realmente temos a pista ‘reveladora’, de que Cristo está sendo simbolicamente representado por Eliaquim, o fiel mordomo:
“E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre.” Apocalipse 3:7
Nos capítulos 2 e 3, lemos as seguintes características adicionais de Cristo como mordomo de Deus:
- Ele é o Filho de Deus;
- Ele possui os 7 Espíritos de Deus;
- Ele é Santo e verdadeiro;
- Ele tem a Chave de Davi;
- Ele fecha e ninguém pode abrir; e abre e ninguém pode fechar;
- “Amém”;
- Ele é a Testemunha Fiel e verdadeira;
- Ele é o Originador (Primogênito) da criação de Deus.
Como Eliaquim, Cristo possui a chave de Davi, a chave da casa do Rei. O que Ele “abre, ninguém fecha, e o que Ele fecha, ninguém abre”. Naqueles dias, o filho adulto mais velho recebia muitas vezes o cargo de mordomo / governante da casa de seu pai. Cristo é o ‘Filho de Deus’. Ele possui os “sete Espíritos de Deus”, indicando Sua natureza divina. Ele é santo, verdadeiro e fiel — todas as características de um servo fiel. Ele é o primogênito, aquele que tem o direito de administrar o reino de Deus. Ele é o ‘Amém’, o ‘assim seja’, quem faz a vontade de Seu Pai.
Dessas formas, Cristo é inequivocamente identificado como o mordomo da casa de Deus, o cumprimento do tipo profético de Eliaquim — cada um tendo recebido uma mordomia de seus respectivos reis. A mordomia de Cristo inclui o cuidado e a instrução dos servos de Deus: os 12 apóstolos em Sua 1ª Vinda e, nos últimos dias, os 144.000 de Israel, que serão os apóstolos do fim dos tempos.
Nos capítulos 1 a 3 de Apocalipse, Jesus é visto assumindo a responsabilidade por um novo grupo de servos — novos discípulos — e Ele fornecerá as diretrizes, mandamentos e advertências que serão necessárias para que eles sirvam fielmente ao Senhor e perseverem na fé, com sucesso. No Evangelho de João, Jesus faz a prestação de contas final relacionada à Sua mordomia, na oração da ‘mordomia’, no final de Seu ministério de três anos e meio. Em Apocalipse, no início de uma nova mordomia relacionada aos 144k de Israel, Jesus proporciona os requisitos básicos para aqueles que estão sob Seus cuidados.
Jesus é o mordomo da casa de Deus, aqueles que compõem a ‘ekklesia’ de Deus. Jesus recebeu a autoridade de emitir mandamentos em nome de Seu Pai, bem como, tem a capacidade de suprir as necessidades dos membros da família de Deus. Nas cartas às 7 igrejas, Cristo Se identifica como o governante da casa de Deus, com a autoridade para agir em nome de Deus Pai.
Conclusão
“Mordomo” e “mordomia” não são termos usuais no nosso vocabulário contemporâneo. No entanto, todos nós entendemos o que significa a responsabilidade confiada a alguém para administrar algo, em nome de outra pessoa. Um mordomo é um administrador, é um ministro chefe, é alguém encarregado de governar alguma coisa a mando e no lugar de alguém.
Entender o conceito de mordomia é importante para compreender várias passagens do texto bíblico e o que elas significam. O mordomo não era um simples ajudante de ordens doméstico. Era alguém qualificado, de confiança e responsável por administrar algo como um procurador, em posição bastante frequente em ambientes reais ou da nobreza. O escopo do trabalho podia ser de uma mansão, de um palácio real ou mesmo de uma nação inteira.
No caso de Jesus, Deus Lhe confiou a missão de ser o fiel Mordomo da Casa de Deus, formando os 12 apóstolos que sucederiam o Seu Filho quando Ele partisse para o céu. Isso ocorreu tanto nos anos do ministério de Cristo na Terra, no 1º Século, quanto nos anos que precederão a Sua 2ª Vinda, quando Cristo selar e providenciar a capacitação dos apóstolos do fim dos tempos, que serão os 144.000 de Israel. Esse novo grupo apostólico terá um ministério vibrante, com porção dobrada do Espírito Santo, assim como Eliseu recebeu a porção dobrada do espírito que estava sobre o profeta Elias.
Após a Sua 2ª Vinda, Cristo e todos os que O ajudarem em Seu governo na Terra também atuarão como fiéis mordomos de Deus, para que haja justiça e paz na Terra, e para que Deus seja glorificado.
Em nossa vida prática, cada um de nós é colocado diante de uma série de responsabilidades, que podem parecer pequenas se comparadas à posição que José alcançou quando foi nomeado governador de todo o Egito (José é um tipo de Cristo) ou do próprio Cristo como o Fiel Mordomo da Casa de Deus. Mesmo assim, devemos ser fiéis em tudo o que nos for confiado por Deus, por menor que possa parecer. Mateus 25:23 fala sobre um servo que foi elogiado por ter sido fiel no pouco e sobre quem o seu senhor muito lhe colocará.
O cuidado e atenção com os nossos familiares é uma mordomia da mais alta importância. Paulo diz, em uma de suas cartas: “Se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente.” 1 Timóteo 5:8
Todos os pais e mãe são mordomos, como servos de Deus no cuidado dos filhos que lhes foram dados. Nossos filhos pertencem a Deus, mas Ele nos encarregou de protegê-los e edificá-los em Seu reino. Devemos educar nossos filhos com amor, em submissão a Cristo de acordo com os princípios que Ele estabeleceu. Devemos zelar por suas almas “como quem há de prestar contas” (Hebreus 13:17).
Em nossa vida cristã, cada um em sua esfera e possibilidades, somos chamados a agir de maneira fiel, como diz Paulo em sua carta aos coríntios: “Assim, pois, importa que todos nos considerem como ministros de Cristo e encarregados dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer destes encarregados é que cada um deles seja encontrado fiel.” 1 Coríntios 4:1,2
O nosso trabalho é para Deus. Ele é o proprietário a quem prestaremos contas. “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” Salmos 24:1
Bons mordomos cuidam dos dons que Deus lhes deu. Então, devemos ser responsáveis sobre tudo o que nos foi dado para administrar: não somente coisas materiais mas, também, as pessoas à nossa volta e tudo o que está relacionado ao reino de Deus, como nos é ensinado por Pedro:
“O fim de todas as coisas está próximo; portanto, sejam criteriosos e sóbrios para poderem orar. Acima de tudo, porém, tenham muito amor uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão de pecados. Sejam mutuamente hospitaleiros, sem murmuração. Sirvam uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como encarregados de administrar bem a multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus lhe dá, para que, em todas as coisas, Deus seja glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio para todo o sempre. Amém!” 1 Pedro 4:7-11.