Introdução
É muito comum, no meio cristão, as pessoas falarem que a Igreja começou no dia de Pentecostes, poucos dias após a ascensão de Cristo, quando os apóstolos receberam o dom do Espírito Santo. Muitos comemoram o ‘aniversário’ da Igreja no dia de Pentecostes, pelo fato de considerarem que o ‘nascimento’ da Igreja foi naquela data. Seria isso verdade? Quando começou a Igreja? Os santos do Antigo Testamento são parte da Igreja?
A era da Igreja x a era do dom do Espírito Santo
A era do derramamento do Espírito começou no Pentecostes, no 1º Século, no mesmo ano da morte e ressurreição de Jesus. No Monte das Oliveiras, quando Jesus falava com os apóstolos, Ele lhes explicou que deveriam esperar em Jerusalém até que recebessem poder do alto, e assim eles fizeram. Então, no dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi enviado, e isso inaugurou a ‘era do dom do Espírito Santo’, ou a ‘era do Espírito’. Essa foi a “chuva temporã” de que o profeta Joel falou. A “chuva temporã” do Espírito Santo veio na Festa de Pentecostes daquele ano. No futuro, haverá uma outra chuva, a “chuva serôdia”, sobre a qual falaremos em outro artigo, sobre um futuro derramamento do Espírito Santo logo após o arrebatamento (o primeiro arrebatamento, do ‘filho varão’ de Apocalipse 12), em uma Festa de Tabernáculos, que ainda não foi profeticamente cumprida.
As pessoas creem pela fé e recebem o dom do Espírito Santo, são seladas no Espírito Santo, batizadas no Espírito, nascemos do alto, ganhamos a cidadania celestial e, mais do que a ‘era da Igreja’, desde o Pentecostes do 1º Século, esta é a ‘era do dom do Espírito Santo’.
Um dos problemas em chamar o período que começa no Pentecostes até o chamado arrebatamento da Igreja como “a era da Igreja”, é que a Igreja, na realidade, existe desde muito antes dos patriarcas do Antigo Testamento. A Igreja existe em Cristo desde a fundação do mundo. A Igreja foi um mistério que ficou escondido durante milênios e, depois, com a morte e ressurreição de Cristo, com o Pentecostes e os ensinamentos dos apóstolos, o mistério da Igreja foi revelado. Judeus e gentios se uniriam a este “um só corpo” que é a Igreja, a porção da humanidade que pertence a Cristo e não é mais identificada por “judeu” ou “gentio”: passa a ser uma nova categoria, a de integrante da Igreja (confira em 1 Coríntios 10:32).
Vejamos Efésios capítulo 1:3-4: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”.
A passagem acima mostra que os crentes foram escolhidos antes da fundação do mundo, em Cristo. A imagem disso é Adão, o homem, e a criação da mulher, quando Deus criou a noiva para Adão. Esta é uma ilustração do último Adão e da Sua noiva. Deus pegou uma parte de Adão, algo que estava escondido dentro de Adão, a sua costela. É por isso que a palavra para quando Deus ‘construiu’ a mulher não é ‘formada’, como quando algo é moldado a partir do barro. O verbo usado para a mulher foi o verbo ‘construir’, o mesmo verbo usado para se referir à construção de um edifício, um templo, ou uma cidade. Veja o artigo A Noiva de Cristo, que explica melhor esses termos e traz outras informações sobre a noiva de Cristo.
A noiva está sendo construída sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, e todas as pedras vivas serão levadas para o céu e construídas nessa santa habitação para Deus. A noiva não é arrebatada: pedras vivas são tomadas e depois construídas no Templo Sagrado. A noiva está escondida em Cristo desde a fundação do mundo, está sendo gradualmente construída, e só estará totalmente pronta no final do Milênio, quando poderá vestir as vestes brancas que são os “atos de justiça dos santos” (Apocalipse 19:7). Mesmo que agora façamos boas obras, será somente depois de nos tornarmos imortais e glorificados que não teremos mais uma natureza pecaminosa, e que teremos condições de fazer atos de justiça perfeitos e irrepreensíveis.
A noiva só termina de se ‘ataviar’ e se tornar pronta no fim do Milênio. Portanto, não há nenhum ‘arrebatamento da noiva’. Sim, haverá arrebatamentos, mas não da Igreja inteira que estiver na Terra de uma única vez. Apocalipse menciona diferentes grupos chegando ao céu, alguns por arrebatamento, outros por martírio. Apocalipse usa a imagem de filhos chegando ao céu, em diferentes grupos. Em Apocalipse, não se vê alguma noiva ‘subindo’, mas só ‘descendo’. A noiva é constrúida no céu, em etapas.
Outro problema que temos com a era da Igreja começando no Pentecostes e terminando no fim dos tempos é que, no mesmo dia em que o grupo simbolizado pelo ‘filho varão’ é arrebatado, será o mesmo dia em que o Espírito Santo será derramado novamente sobre crentes na Terra. A Bíblia fala sobre uma “chuva temporã” e uma “chuva serôdia”, e como a metáfora da chuva está associada ao derramamento do Espírito Santo. Se só tiver havido o derramamento do Espírito Santo em Pentecostes do 1º Século e mais nenhum outro, só haveria o cumprimento profético da chuva temporã. É preciso que haja o cumprimento profético da chuva serôdia, o que sem dúvida alguma acontecerá, no futuro.
O livro de Tiago não costuma ser citado com muita frequência no contexto do fim dos tempos, mas vejamos o capítulo 5, verso 7: “Sede pois, irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia.”
Somente pode haver a 2ª Vinda de Cristo após a chuva serôdia. O lavrador precisa esperar, com muita paciência, que aconteçam todas as chuvas previstas: nesse caso, a chuva temporã (que metaforicamente aconteceu no Pentecostes, com a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos, inaugurando a ‘Era do dom do Espírito’) e a chuva serôdia (que, metaforicamente, será um novo derramamento do Espírito Santo logo após o 1º arrebatamento, e que descerá sobre os 144k de Israel e muitos gentios, sendo que os 144k receberão porção dobrada, porque terão ministério apostólico).
Joel 2, 23,28-32: “Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, regozijai-vos no Senhor, vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva; fará descer, como outrora, a chuva temporã e a serôdia. (…) E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias. Mostrarei prodígios no céu e na terra: sangue, fogo e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (…)”.
A chuva temporã era em uma estação do ano e a chuva serôdia, em outra. Na profecia de Joel 2, Pedro disse que foi isso que aconteceu, que o Espírito seria derramado e haveria esses sinais de idosos tendo sonhos, jovens tendo visões e pessoas profetizando. Também diz nesta mesma passagem, que antes que venha o grande e terrível dia do Senhor (o reino milenar de Cristo, que começa com o derramamento da ira de Deus, com trevas e não luz), Deus derramaria seu Espírito sobre toda a carne novamente. Isso será sobre os 144k israelitas mais qualquer outra pessoa que creia em Cristo após o primeiro arrebatamento, o que provavelmente será no 8º dia de uma Festa de Tabernáculos. Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Outro problema em acreditar que a “era da Igreja” começou com o “nascimento” da Igreja no Pentecostes é que essa premissa assume que os crentes do Antigo Testamento não seriam parte da Igreja, porque o Espírito Santo só foi dado no dia de Pentecostes, após a ascensão de Cristo. Então, muitos inferem que os santos do Antigo Testamento não podem ser parte da Igreja porque o dom do Espírito Santo ainda não havia sido dado. Isso é uma compreensão errada, porque a Igreja existe em Cristo desde a fundação do mundo. É necessário entender que os santos do Antigo Testamento são parte da Igreja, embora não tenham recebido o dom do Espírito Santo da mesma forma que os crentes em Cristo receberam no dia de Pentecostes. A Igreja ainda não havia sido revelada, mas ela já existia, escondida em Cristo. Os santos do Antigo Testamento, portanto, são coerdeiros da promessa da mesma forma que todos os que creram do Novo Testamento em diante. Eles são parte da Igreja de Cristo.
O capítulo 11 do livro de Hebreus, sobre a “galeria da fé”, enfatiza o fato de que era a fé dos santos do Antigo Testamento que agradava a Deus. A palavra fé é usada 24 vezes em Hebreus 11, e a frase “pela fé” é usada 19 vezes. Os santos do Antigo Testamento foram salvos pela fé sem o dom do Espírito Santo, e sabemos que eles foram salvos pela fé e são parte da Igreja, porque serão parte da Cidade Celestial, a Nova Jerusalém.
Hebreus 11:16, falando sobre todos os santos da fé do Antigo Testamento: Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara, Isaque, Jacó, José, Moisés e tantos outros: “Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade”.
E Hebreus 12:22-23, sobre todos os santos do Antigo Testamento que estão no céu: “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus (…)”.
Os santos do Antigo Testamento estão no céu agora. De que forma eles chegaram lá?
Antes da morte de Cristo, qualquer pessoa que morresse ia para um lugar chamado Sheol (ou Hades, em grego). No Novo Testamento, Hades às vezes é traduzido como ‘inferno’, o que é uma tradução problemática, porque alguns pensam que seja o “Lago de Fogo” (que foi preparado para o diabo e seus anjos, e sequer foi inaugurado). O Sheol ou Hades é apenas o local em que ficavam os espíritos dos mortos (e onde, até hoje, ainda ficam os espíritos dos mortos descrentes). De acordo com o que Jesus ensinou, que era o ensinamento costumeiro em Seus dias, e que Ele nunca refutou, é que o Sheol/Hades, o lugar dos mortos, é dividido em “compartimentos”: um deles é o lugar para onde vão os mortos ímpios ou injustos, que não é um lugar agradável. O outro é para onde vão as pessoas ‘boas’, e há um lugar chamado ‘seio de Abraão’.
Quando Cristo morreu, Ele desceu ao Sheol, pregou para os espíritos que estavam ali, e Efésios 4:8-12 nos diz que “Ele levou cativo o cativeiro“, ou seja, Jesus retirou as pessoas de fé, que estavam no compartimento bom do Sheol, e levou-as para o céu. Isso nunca havia sido feito antes, porque essa iniciativa só foi possível após a morte de Jesus, quando “o véu foi rasgado”. Então, quando pensamos que as pessoas que são justas vão para o céu quando morrem, isso é verdade, mas isso nem sempre foi assim. Abraão, Noé, Sara, Jacó e Isaque, todas essas pessoas de fé estavam no “compartimento bom” do Sheol, no lugar dos mortos, até que Jesus foi lá e retirou todos do Sheol, levando-os consigo para o céu. Jesus tomou as chaves da morte e do Hades e levou todos eles para o céu. Todos esses que estavam no Sheol e que foram para o céu ainda estão em seus espíritos, eles ainda não foram ressuscitados. Eles só ganharão corpos ressuscitados no dia em que os crentes que estão vivos na Terra forem transformados e receberem seus corpos imortais, e que todos os crentes que já estão no céu, também receberem seus corpos ressuscitados. Hebreus 11:39-40 nos indica isso: “Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados”.
Assim, no dia em que formos transformados de mortais para imortais, todos aqueles santos do Antigo Testamento, pessoas de fé que não tinham o Espírito Santo mas que, pela fé, creram em Deus e em Suas promessas, e pela fé fizeram certas coisas que agradaram a Deus, todos aqueles santos da fé do Antigo Testamento (veja uma grande lista exemplificativa em Hebreus capítulo 11) estão esperando no céu agora, desejando que perseveremos em nossa fé:
Hebreus 12: 1-3: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma”.
Conclusão
A Igreja existe desde antes da fundação do mundo, escondida em Cristo. A Igreja era um mistério que só veio a ser revelado no Novo Testamento, mas que já existia, tal qual a costela de Adão já existia dentro dele, antes de Eva ser criada (‘construída’) e ser apresentada a Adão. A Igreja deixou de ser um mistério e veio a ser plenamente revelada no Novo Testamento, tornando-se visível a partir do momento em que o Espírito Santo foi derramado no dia de Pentecostes, como a “chuva temporã” prometida nas profecias. Isso não significa que os santos do Antigo Testamento não fossem parte da Igreja. Eles agora estão no céu, aguardando o dia da ressurreição de todos os crentes. Sem a transformação dos corpos dos crentes vivos, que estão na Terra, as pessoas de fé que estão no céu não serão ressuscitadas.
O nome mais apropriado para a era que começou com o Pentecostes do 1º Século é a “era do dom Espírito Santo”, não a “era da Igreja”, porque isso faria parecer que as pessoas de fé do Antigo Testamento não fazem parte da Igreja, o que vimos não ser verdade. Todas as pessoas de fé, do Antigo e do Novo Testamento, até hoje, e até a última pessoa que vier a crer em Cristo antes da Segunda Vinda visível e gloriosa, são parte da Igreja. Os santos do Antigo Testamento que estavam no Sheol foram levados por Cristo ao céu, logo após a Sua morte, quando Ele desceu ao Hades e libertou todos os santos de lá. Esta foi a oferta de Jesus ao Pai, no Dia das Primícias. O feixe de cevada que o sacerdote movia para o alto no dia da Festa das Primícias simbolizava justamente isso. Jesus é “as primícias dos que dormem”, e Ele levou para o céu um ‘feixe’ de espíritos dos santos do Antigo Testamento que estavam no Sheol. Aquelas pessoas de fé estão no céu juntamente com todos os crentes que viveram e morreram depois da ressurreição de Cristo, os quais, ao morrerem, foram diretamente para o céu, não precisando passar pelo Sheol. Veja a série de artigos As Festas do Senhor e as Colheitas de Almas.
A Nova Jerusalém também é chamada de Noiva, e ela tem como fundamentos os nomes dos apóstolos e, nas portas, os nomes das doze tribos dos filhos de Israel.
Os patriarcas são herdeiros da promessa. Em Mateus 8:11, Jesus disse: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.” A expressão “reino dos céus” é usada. Abraão, Isaque e Jacó estão no céu e são parte da Igreja.
Em um de seus escritos, o pregador inglês Charles Spurgeon fez um comentário muito interessante: ele advertiu que nós — os crentes do tempo posterior à ressurreição de Cristo — não deveríamos nos perguntar se os patriarcas do Antigo Testamento se sentarão à mesa conosco no reino dos céus, mas se nós nos sentaremos com eles. Essa é uma reflexão importante que todos nós devemos fazer. Não porque os santos do Antigo Testamento sejam mais importantes por serem judeus, mas porque muitos crentes de hoje levam uma vida sem buscar santidade.
Quem compõe a Igreja são os santos do Antigo Testamento, quando a Igreja ainda estava escondida em Cristo, não revelada, juntamente com qualquer um que tenha sido salvo desde o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, qualquer um que seja arrebatado, qualquer um que tenha a “chuva serôdia” derramada sobre si (no futuro derramamento do Espírito Santo logo após o arrebatamento), e os todos os que temerem a Deus e crerem em Jesus durante a tribulação, e que não adorarem a Besta nem a sua imagem, e que não aceitarem a marca da Besta.
Com o primeiro derramamento do dom do Espírito Santo no Pentecostes — a “chuva temporã” —, a Igreja se tornou visível e revelada naquela ocasião, mas ela já existia, escondida em Cristo, desde a fundação do mundo. A corpo chamado de ‘Igreja’ inclui as pessoas de fé que viveram antes da primeira vinda de Cristo, e que estão no céu como herdeiros da promessa, a qual não é limitada aos crentes do Novo Testamento.
◊◊
Você está seguro do seu destino eterno? Tem a certeza e a alegria da sua salvação eterna, em Cristo Jesus? O momento para isso é o dia que se chama hoje! Conheça a nossa página da Salvação.